Evangelho por Emmanuel, O – Comentários às Cartas de Paulo

Capítulo CCXIV

O fardo



“Cada qual levará a sua própria carga”. — PAULO (Gl 6:5)


Quando a ilusão te fizer sentir o peso do próprio sofrimento, como sendo excessivo e injusto, recorda que não segues sozinho no grande roteiro.

Cada qual tolera a carga que lhe é própria.

Fardos existem de todos os tamanhos e de todos os feitios:

A responsabilidade do legislador.

A tortura do sacerdote.

A expectativa do coração materno.

A indigência do enfermo desamparado.

O pavor da criança sem ninguém.

As chagas do corpo abatido.


Aprende a entender o serviço e a luta dos semelhantes para que te não suponhas vítima ou herói num campo onde todos somos irmãos uns dos outros, mutuamente identificados pelas mesmas dificuldades, pelas mesmas dores e pelos mesmos sonhos.

Suporta o fardo de tuas obrigações valorosamente e caminha.

Do acervo de pedra bruta nasce o ouro puro.

Do cascalho pesado emerge o diamante.

Do fardo que transportamos de boa vontade procedem as lições de que necessitamos para a vida maior.

Dirás, talvez, impulsivamente: — “É o ímpio vitorioso, o mau coroado de respeito, e o gozador indiferente? Carregarão, porventura, alguma carga nos ombros?”

Responderemos, no entanto, que provavelmente viverão sob encargos mais pesados que os nossos, de vez que a impunidade não existe.

Se o suor te alaga a fronte e se a lágrima te visita o coração, é que a tua carga já se faz menos densa, convertendo-se, gradativamente, em luz para a tua ascensão.

Ainda que não possas marchar livremente com o teu fardo, avança com ele para a frente, mesmo que seja um milímetro por dia…

Lembra-te do madeiro afrontoso que dobrou os ombros doridos do Mestre. Sob os braços duros do lenho infamante, jaziam ocultas as asas divinas da ressurreição para a divina imortalidade.