“Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina.” — PAULO (Tt
Na atividade verbalista, emprega o homem grande parte da vida. E, com a palavra, habitualmente se articulam os bens e os males que lhe marcam a rota.
É de se lamentar, entretanto, o desperdício de força nesse sentido.
Quase sempre, computada a conversação de toda uma existência, o balanço acusa diminuta parcela de proveito, com largo coeficiente de prejuízo e inutilidade.
Muitas vezes, ninguém denota agradecimento pela riqueza de um dia claro; todavia basta a passagem de uma nuvem com leve garoa a cair, para que muita gente destile exclamações vinagrosas, em longas tiradas inconsequentes. De maneira geral, não existem olhos para a contemplação de grandes serviços públicos; no entanto, vaga incerteza do trabalho administrativo gera longos debates da opinião.
Há criaturas que guardam barômetros em casa para criticarem o tempo, tanto quanto há pessoas que adquirem pontualmente o jornal para a censura ao governo.
Muitos dormem tranquilos quando se trate de ouvir ensinamentos edificantes, declarando-se enfermos da memória, mas revelam admirável controle de si mesmos, quando o rádio anuncia calamidades, gastando vastas horas de comentário eloquente.
Esmaece a atenção quando é preciso aprender o bem, contudo, o olhar flameja interesse quando o mal surge à vista.
O mundo em si é sempre um parlatório de proporções gigantescas onde as almas se encontram para falar combinando fazer… Raras, no entanto, conversam para ajudar…
Desborda-se a maioria no espinheiral da reprovação, no tormento da inveja, na fogueira da crítica ou no labirinto da queixa.
Para nós outros, no entanto, o Evangelho é seguro na advertência. “Tu, porém — diz-nos o apóstolo —, fala o que convém à sã doutrina.”
Não olvides, assim, que de sentimento a sentimento chegamos à ideia. De ideia em ideia, alcançamos a palavra. De frase a frase, atingimos a ação. E de ato em ato, acendemos a luz ou estendemos a treva dentro de nós.
(Reformador, outubro 1959, página 218)