“Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados…” — (Tg
Mergulhar o divino dom da palavra no vaso lodoso da queixa é o mesmo que inflamar preciosa lâmpada no conteúdo da lata de lixo.
Não transformes a própria frase em lama sobre chagas abertas.
Podes mobilizar a maravilha do verbo, para reajustar o bem, sem necessidade de estender o mal.
Ergue a esperança, ao pé dos que desfaleceram na luta. Exalta a excelência do amor, perante aqueles que o ódio intoxica. Louva as perspectivas da fé, ao lado dos que choram no desencanto. Aponta as qualidades nobres do amigo que caiu em desvalimento. Destaca as possibilidades de auxiliar onde os outros somente encontram motivos para censura. Desdobra o trabalho restaurador onde o pessimismo condena. Procura o lado melhor das situações para que o melhor seja feito. E, quando os obstáculos morais se agigantem, como se a maldade estivesse a ponto de triunfar em definitivo, se não podes algo dizer em louvor da bondade, cala-te e ora.
Pensa no bem, quando não puderes falar nele.
A semente muda, renova a terra.
A gota silenciosa de sedativo, asserena o corpo martirizado.
Nunca te queixes dos outros, mesmo porque, em nos queixando de alguém, é preciso consultar o próprio íntimo para saber se em lugar desse alguém não estaríamos fazendo isso ou aquilo de maneira pior.
Reformador, maio 1961, p. 98.