Os filhos do Grande Rei

Capítulo XIX

Esclarecimentos de Cipião



O bondoso velhinho parecia haver terminado, mas Dolores, a pequena estudiosa, cravou nele os olhinhos brilhantes, segurou-lhe nervosamente as mãos, e tornou a perguntar:

— Vovô, não é possível explicar tudo? Jesus não teria falado mais alguma coisa? quais eram os monstros que enganaram os príncipes? quais são os juízes que vieram da parte do Grande Senhor?

O narrador sorriu, visivelmente satisfeito com a interrogação, e comentou:

— Não cheguei a saber se o Divino Mestre prestou esclarecimentos finais às criancinhas de Cafarnaum; mas, de acordo com informações que recebi, farei a interpretação para vocês.

E, com voz pausada e firme, explicou:

— O Rei de todos os reis, bom e altíssimo Senhor, é Deus, Nosso Pai de Infinita Bondade.

Os impérios resplandecentes são os sóis numerosos e os numerosos mundos que se equilibram na imensidade, dos quais podemos fazer ligeira ideia, contemplando o firmamento iluminado.

Os príncipes, necessitados de sabedoria e amor, são os homens e as mulheres da Terra, herdeiros divinos da Criação.

Os conselheiros e cooperadores do Poderoso Senhor são os Espíritos Sábios e Benevolentes que nos auxiliam, em nome d’Ele, em todos os caminhos da vida humana.

A bendita escola construída para a educação dos príncipes é a Terra em que habitamos.

O vigoroso foco de luz, junto do qual foi edificado o nosso educandário, é o Sol que nos sustenta a vida física.

A lâmpada suave e enorme é a Lua.

As árvores e as ervas, as flores e os frutos, bem com os animais de variadas espécies, são os auxiliares dos herdeiros felizes.

Os rios e estradas constituem as comunicações que o Pai nos concedeu a fim de aproximar-nos uns dos outros.

O lar confortável é a casa acolhedora que nos abriga no mundo.

O uniforme ou roupa dos príncipes é o corpo carnal que varia de cor na Europa, na América, na Ásia e na África.

Os conselheiros monstruosos que os aprendizes criaram para si mesmos chamam-se orgulho e vaidade, egoísmo e ambição, ciúme e discórdia.

A rebeldia comum dos herdeiros, na escola terrestre, revela-se no propósito de dominar os semelhantes, através da maldade e da guerra, em que todos os poderes da inteligência são utilizados.

O primeiro juiz enviado por Deus é o sofrimento, que procura despertar a consciência adormecida; o segundo é a morte, que reconduz a alma às realidades do Grande Senhor.

A cegueira, que impediu o retorno dos filhos aos braços amorosos do Soberano Pai, é a treva do mal que se apodera do homem, destruindo-lhe a visão e o entendimento.

O regresso aos uniformes tão caridosamente autorizado pelo Rei Poderoso e Bom, a fim de que os príncipes recomecem o aprendizado, é a lei divina da reencarnação, com a qual aprendemos, em contato com o sofrimento e com a morte, os sagrados princípios da fraternidade, da justiça, do amor, da concórdia, da paz e do perdão.