Os filhos do Grande Rei

Capítulo II

O início da história



A solicitação vinha de todos os lados. Dolores achava-se tão ansiosa que se acercou ainda mais, debruçando-se nos joelhos do velho Cipião.

O ancião, como todas as pessoas bem educadas, gostava das crianças de boas maneiras e, reconhecendo o respeitoso interesse de todas, começou, sem embaraço, ante a curiosidade geral:

— Prestem muita atenção!

A pequenada fez absoluto silêncio.

E o velhinho prosseguiu:

— O rei de todos os reis, bom e altíssimo Senhor, que possui vastos impérios resplandecentes e a cuja autoridade se submetem todos os seres e coisas da Criação, reparou que alguns dos seus filhos, meninos e meninas, necessitavam de maior sabedoria, a fim de entrarem na posse da herança, constituída de infinitas riquezas que lhes reservava. Os jovens tinham a inteligência muito verde ainda e, por isso, eram ignorantes, indecisos… Fazia-se necessário, portanto, criar trabalho através do qual os herdeiros felizes pudessem adquirir, não somente o amor para com os semelhantes, mas também a ciência do Universo. O rei magnânimo e sábio, ocupado em governar os extensos domínios do seu reino sem fim, não podia mantê-los ao pé de si, uma vez que não desejava conservá-los como bonequinhos de enfeite e, sim, como filhos fortes e bem orientados, trabalhadores e leais. Para isso, os jovens precisavam de elevação própria e experiência da vida.