Qual se te visses em meio de grande multidão, da qual participas, observas os que passam, renteando contigo na caminhada.
Natural que te enterneças, ante os que se apresentam infortunados e enfermos.
Os tristes e os fracos, os cansados e os esquecidos te arrancam melodias de ternura às cordas do coração.
Entretanto, não silencies essa música da alma à frente daqueles outros que te pareçam felizes.
Não raro, indagas a ti mesmo porque passam tantos deles, como se não enxergassem o sofrimento dos semelhantes, qual se andassem sob a hipnose do luxo e do prazer.
Não te precipites, porém, no espinheiral da censura. Abençoa e serve a todos, tanto quanto puderes.
Bastas vezes, o homem que se te adianta em caminho, na posição de comandante da fortuna, traz um cérebro esfogueado por aflições que não conseguirias suportar; outro, que se te afigura perdulário, quase sempre é doente buscando a fuga de si próprio; outro ainda que avança, recolhendo condecorações e medalhas pelos recursos que conseguiu entesourar, frequentemente, é um mendigo de amor, relegado à solidão; a mulher que enxergaste ricamente trajada costuma ocultar no peito enorme vaso de lágrimas que não conseguem cair; e aquela outra que se te revela por expoente de beleza e poder, muitas vezes, transporta uma cruz de fel por dentro do coração.
Não critiques e nem apedrejes criatura alguma. Na Terra e fora da Terra, integramos a imensa caravana que se desloca incessantemente para diante.
Não reproves ninguém. Todos somos viajores nas estradas da vida, necessitando do auxílio uns dos outros e todos estamos seguindo com sede de compreensão e fome de Deus.
(Anuário Espírita 1999)