Palavras Sublimes

A José Cândido Xavier, com todo o nosso amor, carinho e gratidão!



A José Cândido Xavier, com todo o nosso amor, carinho e gratidão!





A Chico Xavier, trabalhador incansável da seara do Mestre irmão incomparável, cujos exemplos de vida e ensinamentos de sua vasta obra servem para todos nós como permanente inspiração.

A D. Cidália Xavier de Carvalho, única irmã de Chico Xavier ainda encarnada, e herdeira legítima do patrimônio psicográfico e biográfico do maior médium de todos os tempos, quem nos autorizou a reproduzir em livro as mensagens de Chico Xavier publicadas em Reformador no período de 1933 a 1950.

Ao Reformador, repositório de ensinamento e de luz espírita, farol a clarear e a nortear a nossa jornada terrena.

Aos companheiros da Vinha de Luz Editora, que nos apoiaram em todos os momentos e nos permitem a publicação de cada livro, tendo, inclusive, colocado toda a coleção de Reformador da Casa de Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais, à nossa disposição.




A trajetória de Chico Xavier pelas páginas de Reformador



O Reformador, órgão de divulgação da Federação Espírita Brasileira, é o mais antigo periódico espírita ainda em circulação no Brasil. Lançado em 21 de janeiro de 1883, não foi o primeiro divulgador do Espiritismo. Antes, surgiram os pioneiros O Écho D’Além-túmulo, a Revista Espírita, a Revista da Sociedade Acadêmica Deus, Christo e Caridade, O Renovador, entre outros.

Naquela época, o Espiritismo dava ainda os seus primeiros passos no Brasil. Somente em 1875 é que chegaram ao Brasil as primeiras obras de Allan Kardec traduzidas para a língua portuguesa. Aqueles primeiros anos da Doutrina Espírita no Brasil haviam sido marcados pela criação dos primeiros grupos espíritas, pela realização do primeiro congresso e da primeira exposição para a divulgação da Doutrina Espírita, mas também pela perseguição ao Espiritismo e o fechamento das suas instituições.

Foi nesse cenário que surgiram as primeiras páginas de Reformador no início de 1883, tendo a própria Federação Espírita Brasileira sido criada no final daquele mesmo ano, a 27 de dezembro.

Resgatamos, a seguir, um texto de nossa primeira obra espírita, que conta um pouco sobre o lançamento de Reformador:

“O mais antigo órgão de divulgação do Espiritismo no Brasil, ainda em circulação, é o Reformador, órgão oficial da Federação Espírita Brasileira.

O Reformador iniciou os seus trabalhos em 21 de janeiro de 1883, com a denominação de Reformador - Órgão Evolucionista. Somente um ano depois, com a fundação da Federação Espírita Brasileira, é que o Reformador passou a ser o órgão oficial da FEB.

O responsável pelo lançamento do Reformador foi o fotógrafo português Augusto Elias da Silva, que havia sido membro da Comissão Confraternizadora da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade e fundador do Grupo Espírita Menezes.

Com recursos tirados de seu próprio bolso, Augusto Elias da Silva criou a oficina do Reformador no seu próprio ateliê fotográfico, à Rua São Francisco de Assis 120, sobrado (hoje Rua da Carioca), onde residia com a sua família.

O Reformador surgiu em forma de jornal quinzenal, com quatro páginas e um reduzido número de assinantes. Boa parte dos jornais eram distribuídos gratuitamente. Mesmo assim, Augusto Elias da Silva sustentou o seu objetivo de fundar e conservar um órgão de propaganda espírita na Corte do Brasil. Para assumir a Direção Intelectual do Reformador, Augusto Elias da Silva chamou o Major Francisco Raimundo Ewerton Quadros. A tarefa não foi das mais fáceis, já que o Espiritismo era combatido com furor e ridicularizado por aqueles que sequer se interessavam em conhecer o seu conteúdo. Alguns escritores analisaram esse período com muita propriedade:

“Naquela hora as forças católicas estavam em marcha. Dos púlpitos fluminenses despejavam-se insultos e insinuações. Sendo impossível ao católico, como disse Carlos de Laet, distinguir o Demônio invisível do seu evocador visível, o “ódio por dever de consciência” era contra o espírita. Não se pensava em salvar o “endemoninhado”. Segundo a lei de Moisés, citada na Pastoral, cumpria exterminá-lo.” (Bezerra de Menezes, Canuto Abreu)

“Fundar e conservar um órgão de propaganda espírita, na Corte do Brasil, era, naquela época, de forma a entibiar o ânimo dos espíritas mais resolutos. Todas as baterias do Catolicismo estavam assestadas contra o Espiritismo. Dos púlpitos brasileiros, principalmente dos da Capital, choviam anátemas sobre os espíritas, os novos hereges que cumpria abater.” (Grandes Espíritas do Brasil, Zëus Wantuil)

A situação da Imprensa Espírita também não era das melhores, conforme nos conta o autor Zêus Wantuil:

“A imprensa espiritista, para poder sobreviver, pedia uma orientação mais firme e perseverante, em que a renúncia e a abnegação constituíam fatores decisivos para alimentar uma tiragem irrisória, que não cobria as despesas de confecção, em vista de perfazerem os assinantes um número reduzido, de cem a duzentos, sendo o excedente de exemplares, geralmente o dobro, distribuído gratuitamente.”

Em todos os momentos da história, Reformador — esse jornal que se transformou em revista — se posicionou em defesa da vida, defendeu de forma veemente a abolição da escravatura e valorizou a importância da mulher na vida cotidiana, numa época em que elas eram relegadas a segundo plano, vivendo numa sociedade essencialmente machista.

A partir da década de trinta, do século passado, a história de Chico Xavier começou a ser contada pelas páginas de Reformador. Algumas mensagens de Parnaso de além-túmulo, primeira obra do médium mineiro, foram publicadas nele antes do livro. As inesquecíveis crônicas de Humberto de Campos tomaram o mesmo rumo. E em tempos remotos as mensagens de Bittencourt Sampaio, Emmanuel, André Luiz e outros vultos do Espiritismo demoravam não mais do que um mês para chegar aos seus leitores, com seus ensinamentos e advertências de luz e sabedoria.

O material que resgatamos é composto de mensagens de Chico Xavier que localizamos em Reformador em suas edições de 1933 a 1950. As psicografias foram extraídas dos artigos e por isso mesmo ganharam novos títulos por uma questão de direito autoral. As pesquisas para localizar todo o material deste livro se estenderam por longo período e foram realizadas na Biblioteca Nacional, na Casa de Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, e na internet. Inicialmente, folheamos cada uma das páginas de Reformador entre 1930 e o final de 1950 para localizar as mensagens. Posteriormente, iniciou-se uma etapa ainda mais trabalhosa, quando tentamos verificar se cada mensagem localizada tinha sido publicada nas suas mais de 400 obras publicadas em vida, número que rapidamente se aproxima das 500 obras, com as publicações ocorridas após a sua desencarnação. Essa pesquisa foi realizada em cerca de 410 obras digitalizadas e a partir de ampla pesquisa na internet. Devido ao imenso número de livros e à falibilidade do ser humano, é possível que alguma dessas mensagens que acreditamos inéditas tenham já sido publicadas em algum de seus livros, principalmente naquelas obras que foram publicadas após a sua desencarnação. Nesse sentido, pedimos a compreensão do leitor para essa questão, ressaltando que tudo fizemos para chegar o mais próximo possível da realidade dos fatos.

Rogamos que estas mensagens edificantes possam trazer para o amigo leitor as bênçãos da paz, os conhecimentos sublimes e a inspiração necessária para direcionar a sua jornada em direção aos planos de luz.


Organizador



Memória espírita — Papéis velhos e história de luz, publicado pelas Edições Léon Denis, em 2005.




Nossos velhos tempos do Porto



Meu caro Ismael, Jesus nos fortaleça. Graças a Deus, encontro você na mesma devoção ao apostolado de aproximação fraternal, guardando, intacto, o nosso velho patrimônio de serenidade e esperança.

Felizmente, você tem sabido trabalhar sob a ventania forte. A carantonha da tempestade ainda não conseguiu quebrar-lhe as fibras de lidador, e isso é muito importante.

Creia, meu caro, que minhas antigas preocupações, diante da quietude humana, que sempre se compraz na indiferença e na impassibilidade perante as lições divinas que o Espiritismo nos trouxe, foram substituídas por real bom humor. É impressionante observar o volume numérico dos crentes que esperam a solene entrada no Paraíso, vivendo de braços cruzados à maneira do lavrador que sonha com a germinação da semente e aguarda a colheita no descanso voluptuoso do leito macio. Outros alinham algumas preces labiais nos dias da dificuldade em que sentem estorvados em seus caprichos e exigem que Jesus nomeie interventores que lhes decidam, gratuitamente, as questões intrincadas da experiência material que eles próprios estabelecem. Em todas as esquinas, somos surpreendidos por irmãos que atravessam noventa e nove por cento do dia, na movimentação, quase sempre inútil, da fiscalização e da crítica, confessando-se desiludidos com a humanidade e desacoroçoados do mundo, quando, em verdade, até mesmo não se deram ao luxo de algum exame mais particularizado da própria personalidade.

Você imagina o que seria de nós se não fosse a alegria do trabalho e a confiança perfeita no êxito final do bem?… Sem a escora permanente desses recursos talvez fugíssemos espantados da Terra, temendo as ousadas afirmativas de criaturas que pretendem as asas dos anjos quando ainda se encontram à imensa distância dos valores reais da humanidade e que reclamam o Céu colados, de pés e mãos, às furnas acolhedoras da Terra.

O quadro, contudo, não nos exaure a energia, nem nos desencanta. O Mestre na cruz é uma inspiração incessante. Trabalhar na restauração dos ensinos que nos transmitiu em sublime apostolado de santificação e semear a concórdia e o entendimento, em nome dele, são tarefas claras e simples a que nenhum colaborador de boa vontade deve subtrair-se. Nesse sentido, o Espiritismo e o Esperanto são as duas alavancas com que removeremos os percalços da senda, em favor da vitória insofismável do Evangelho nos corações. Quanto pudermos, incentivemos a extensão da influência dessas forças profundas de renovação e reajustamento. Não nos impressionemos com as negras observações dos adversários da propaganda em sua feição de benefício público e de escola transformadora das condições mentais do Espírito encarnado. Negar-lhe as vantagens seria esquecer a lição da semente que se multiplica indefinidamente, enriquecendo-nos o prato e o celeiro como que ansiosa de revelar-nos a grandeza divina das leis de abundância, de sabedoria e de amor que governam o Universo inteiro. Há companheiros que parecem trazer consigo uma noite diante do sol pleno e estimariam que a treva alcançasse todas as paisagens e todas as coisas. Enxergam aleijões nas flores, monstros no firmamento, veneno nas fontes e infernos na alegria. Para estes, estamos irremediavelmente condenados, entretanto, seguiremos para diante assim mesmo. Um dia compreenderão que, além do túmulo, possuímos até mesmo escolas de alfabetização e atividades primitivistas de ensino e perderão, mais tarde, a ilusão de haverem atingido o Olimpo da inteligência apenas porque fizeram a leitura de alguns clássicos ou por que se hajam sentado em algum banco de universidade. Temamos o cérebro parado, o coração enferrujado e as mãos mortas, e sigamos para a frente, agindo e ajudando sempre.

Cuide de sua saúde e avance como quem sabe que o vaso da experiência humana é precioso instrumento de realizações para hoje e amanhã, em plena eternidade. E para encerrar esta carta despretensiosa e alegre, farei uma que alinhavarei recordando os :




Prece

Senhor, que a nossa humilde mão se estenda
Onde a sombra da Terra se abra em dores.
Que os nossos pés te sigam onde fores,
Levando o amor por mágica oferenda!…


Que o nosso coração te escute e atenda
Nos escuros caminhos tentadores,
Nas alegrias e nos amargores
Para amar-te e servir-te sem contenda!


Cura-nos, Mestre, o espírito enfermiço
E move a nossa vida ao teu serviço
Em sublime e ditoso cativeiro.


Seja o teu braço amigo que aprimora,
O timão que nos guie estrada afora,
Estendendo-te a glória ao mundo inteiro!


Guarde um apertado abraço do seu velho amigo e companheiro de sempre,




Reformador — Agosto de 1950



Consta do original uma nota explicativa referentemente ao “Porto”, que, segundo o articulista era o povoado de Porto de Santo Antônio, atualmente a cidade de Astolfo Dutra, em Minas Gerais. na qual viveu e desencarnou Abel Gomes, autor da mensagem dirigida a Ismael Gomes Braga. Nessa cidade, há a Cabana Espírita Abel Gomes e a Fundação Espírita Abel , um abrigo para criaturas. fundados nos anos 1940.

A psicografia data de 8 de abril de 1950. e foi recebida em sessão íntima, sem referência de local, conforme informado no original de Reformador.




Referências bibliográficas



ISMAEL GOMES BRAGA. In: . Acesso em 11 de setembro de 2013.

LEÃO, Geraldo; LEMOS NETO. Geraldo (Organizadores). Pedro Leopoldo vista por Chico Xavier — 49 anos da presença do maior médium de todos os tempos — 1910-1953. Belo Horizonte. Vinha de Luz, 2011.

LEMOS NETO, Geraldo. Acervo fotográfico da Casa de Chico Xavier. Pedro Leopoldo: 2014. Rua Pedro José da Silva, 67.

REFORMADOR. Rio de Janeiro: FEB (Federação Espírita Brasileira), abril, setembro de 1933. (sem data)

REFORMADOR. Rio de Janeiro: FEB, março, agosto de 1934. (sem data) REFORMADOR. Rio de Janeiro: FEB, fevereiro, abril, setembro, dezembro de 1935. (sem data)

REFORMADOR. Rio de Janeiro: FEB, fevereiro, maio, junho, julho, agosto, setembro, outubro, dezembro de 1936. (sem data)

REFORMADOR. Rio de Janeiro: FEB, abril de 1937. (sem data)

REFORMADOR. Rio de Janeiro: FEB, julho de 1938. (sem data)

REFORMADOR. Rio de Janeiro: FEB, março, julho, setembro, outubro, novembro de 1939. (sem data)

REFORMADOR. Rio de Janeiro: FEB, janeiro, fevereiro, julho, setembro de 1940. (sem data)

REFORMADOR. Rio de Janeiro: FEB, março, junho de 1941. (sem data)

REFORMADOR. Rio de Janeiro: FEB, abril, maio de 1943. (sem data)

REFORMADOR. Rio de Janeiro: FEB, novembro de 1944. (sem data)

REFORMADOR. Rio de Janeiro: FEB. Abril, maio, junho, julho de 1945. (sem data)

REFORMADOR. Rio de Janeiro: FEB, abril, julho, novembro de 1946. (sem data)

REFORMADOR. Rio de Janeiro: FEB, janeiro, março, abril, junho, julho, setembro de 1947. (sem data)

REFORMADOR. Rio de Janeiro. FEB, janeiro, julho, setembro, outubro, novembro, dezembro de 1948. (sem data)

REFORMADOR. Rio de Janeiro: FEB, julho, dezembro de 1949. (sem data)

REFORMADOR. Rio de Janeiro: FEB, janeiro, agosto, setembro, outubro, dezembro de 1950. (sem data)

XAVIER, Francisco Cândido; JOVIANO, Wanda Amorim (Organizadora). Colheita do bem. Ditado pelo Espírito Neio Lúcio. Belo Horizonte. Vinha de Luz, 2010.

XAVIER, Francisco Cândido; TAVARES, Clovis; TAVARES, Flávio Mussa (Organizadores). Luz na Escola - Chico Xavier na Escola Jesus Cristo de Campos | RJ. Ditado por diversos Espíritos. Belo Horizonte. Vinha de Luz, 2010.

XAVIER, Francisco Cândido; LEMOS NETO, Geraldo; JOVIANO, Wanda Amorim (Organizadores). Depois da travessia. Ditado por diversos Espíritos. Votuporanga: Didier, Vinha de Luz, 2013.