Palavras Sublimes

Capítulo LXVII

A cruz



Disse o homem à cruz que o constrangia:
— Detestável prisão ingrata e feia,
Atormentas minh’alma que te odeia,
Escarneces meus sonhos de alegria!

Que fogo pavoroso te incendeia?
Que te fez para o inferno da agonia?
Por que me prendes, pedra horrenda e fria,
Ao teu corpo que lágrimas ateia?


A cruz, porém, clamou serena e certa:
— Sou a chave de dor que te liberta
Do abismo que estendeste a toda parte!


Não me percas na sombra de teus dias.
Sem meus braços, jamais alcançarias
O Senhor que me fez para salvar-te!





Reformador — Dezembro de 1948.

Consta do original a informação de que esse soneto foi psicografado em 15 de dezembro de 1948, em Belo Horizonte.