Dizem que o sábio Confúcio, Notável mestre chinês, Foi, um dia, procurado Por manhoso camponês. De começo, disse o homem: — “Mestre, perdoe!… Sou ladrão!… Auxilie-me a encontrar Minha própria salvação… — O que há? — falou Confúcio. E o amigo respondeu: — “Perdão para as faltas minhas!… Sem intenção, cada noite, Furto quarenta galinhas… “Mestre, o que devo fazer Contra esse enorme delito? Ando agora acabrunhado, De espírito amargo e aflito.” O sábio aclarou sereno, Em voz amiga e pausada: — “Meu amigo, você sabe, Na justiça que nos rege, Cada galinha roubada Exige uma chicotada. Volte a casa e faça preces, Corrija-se e viva, em suma, E, de agora para a frente, Esteja são ou doente, Não furte galinha alguma!… Despediu-se o consulente E falou a sós consigo: — “Seguirei o mestre amigo, Mas não sou precipitado. Atenderei a Confúcio, Nas linhas do meu desejo, Não furtarei no atacado, Mas furtarei no varejo…” Na noite que se seguiu, Ele roubou trinta e nove, Depois rezou: “Deus me valha!… Que a minha fé se renove!…” Na outra noite, ele furtou Até somar trinta e oito E clamou: “Que o Céu me ampare! Não devo ser muito afoito!… Nova noite e ele empalmou As coitadas trinta e sete. Logo após, rezou: “Pai Santo Só busco o que me compete!…” Outra noite: Trinta e seis. E mais outra: Trinta e cinco. Ele orou: “Pai de Bondade Preciso de mais afinco!…” Chegando o fim da tarefa, Que consistia no furto, Ei-lo nas mãos da polícia, Que o prendeu no passo curto. Ante as faltas confessadas, O pobre morreu gemendo, Nas quarenta chicotadas. |