Palco Iluminado

Capítulo XV

Parentes



— “Venha cá, minha Vivila!…”

Dizia Neca Sobral,

Chamando a esposa à leitura

Da notícia de um jornal…


E acrescentava, contente,

“Eis, enfim!… Veja você

Eu creio que a nossa casa

Fugirá do miserê


“Morreu meu avô Paulino,

Nosso grande fazendeiro,

E já sei, desde menino,

Que sou o único herdeiro!…”


A esposa leu a notícia

E, embora muito espantada,

Sorria, sem dizer nada.


Neca, porém, prosseguiu:

— “Vivila, entre em ação,

Ligue o rádio e encontraremos

A justa confirmação.”


De fato, o jornal falado

Disse, entre os flashes da hora:

— “A, nossa cidade chora…

Faleceu Paulino Serra,

O homem bom de nossa terra!…


E Neca explicou, veemente:

— “O meu avô certamente

Morreu, segundo previa.

Enfarte aparece e arrasa

Com muita gente, hoje em dia!…


“Vivila, você se apresse.

Escute: vista-se bem,

Não temos tempo a perder,

Nossa dor é muito grande,

Vendo um parente a morrer…


“Choremos o avô querido,

Por fora, é a nossa tristeza,

Por dentro, compreendamos

Que felizmente atingimos

A nossa própria riqueza.


“Já estou formando planos…

Será nossa, apenas nossa,

A grande e bela fazenda,

A Fazenda do Monjolo!…

Eu por ela sou gamado,

Desde os meus tempos de colo!…

Mas não será posta à venda,

Precisamos conservá-la,

Para termos boa renda…


“Nos Bancos, nós dois teremos

Não mais tostões com tostões,

Receberemos de herança,

Uns vinte e sete milhões!…”


Nisso, alguém bateu à porta.

Neca abriu-a, mas se aterra;

Quem chegara, de repente,

Era o avô rico e robusto,

O grande Paulino Serra!…


O avô disse logo a Neca:

— “Muito às pressas, vim buscá-los

Pois sabem quanto os estimo!…

Faleceu Paulino Serra,

O nosso querido primo!…


“Ah! Tudo a morte consome!

Foi ele, entre os meus parentes,

O único deles todos

A conservar o meu nome!…


Neca ouviu, tudo entendendo,

Com cara da cor de cobre…

O avô rico estava firme.

Falecera o primo pobre.