— “Venha cá, minha Vivila!…” Dizia Neca Sobral, Chamando a esposa à leitura Da notícia de um jornal… E acrescentava, contente, “Eis, enfim!… Veja você Eu creio que a nossa casa Fugirá do miserê… “Morreu meu avô Paulino, Nosso grande fazendeiro, E já sei, desde menino, Que sou o único herdeiro!…” A esposa leu a notícia E, embora muito espantada, Sorria, sem dizer nada. Neca, porém, prosseguiu: — “Vivila, entre em ação, Ligue o rádio e encontraremos A justa confirmação.” De fato, o jornal falado Disse, entre os flashes da hora: — “A, nossa cidade chora… Faleceu Paulino Serra, O homem bom de nossa terra!… E Neca explicou, veemente: — “O meu avô certamente Morreu, segundo previa. Enfarte aparece e arrasa Com muita gente, hoje em dia!… “Vivila, você se apresse. Escute: vista-se bem, Não temos tempo a perder, Nossa dor é muito grande, Vendo um parente a morrer… “Choremos o avô querido, Por fora, é a nossa tristeza, Por dentro, compreendamos Que felizmente atingimos A nossa própria riqueza. “Já estou formando planos… Será nossa, apenas nossa, A grande e bela fazenda, A Fazenda do Monjolo!… Eu por ela sou gamado, Desde os meus tempos de colo!… Mas não será posta à venda, Precisamos conservá-la, Para termos boa renda… “Nos Bancos, nós dois teremos Não mais tostões com tostões, Receberemos de herança, Uns vinte e sete milhões!…” Nisso, alguém bateu à porta. Neca abriu-a, mas se aterra; Quem chegara, de repente, Era o avô rico e robusto, O grande Paulino Serra!… O avô disse logo a Neca: — “Muito às pressas, vim buscá-los Pois sabem quanto os estimo!… Faleceu Paulino Serra, O nosso querido primo!… “Ah! Tudo a morte consome! Foi ele, entre os meus parentes, O único deles todos A conservar o meu nome!… Neca ouviu, tudo entendendo, Com cara da cor de cobre… O avô rico estava firme. Falecera o primo pobre. |