Era um casal invejável, Antônio e Dona Constança. Os seis anos de casados Não lhes haviam trazido A bênção de uma criança. Declaravam-se cansados De procurar medicina; O bebê não vinha ao berço, Nem menino, nem menina. Certo dia, o esposo Antônio Disse a Constança: “Querida Você se lembra de Mena, A nossa ex-empregada, Há dois anos demitida?” — “Recordo…” — afirmou a esposa, — “Pois note”, tornou Antônio, Falando compadecido: — “Ela deu-me hoje notícias Por telefone, a chorar… Diz ter tido uma criança, Sem casa para morar. “Resolveu ser mãe solteira, Reside em cantinho à-toa, Dorme em paupérrima esteira Por bondade da patroa… “É pobre moça da roça E disse que, se quisermos, A criança será nossa,” Dona Constança, contente, Coração bondoso e amigo, Gritou, jubilosamente: — “Antônio, a filha de Mena Não sofrerá desabrigo. “Vendo você satisfeito, Será nossa!… Não vacilo. Irei à maternidade Buscá-la. Fique tranquilo.” Constança trouxe a menina, No máximo de emoção, Enquanto Mena, a mãezinha, Chorava de gratidão. Tudo mudou no casal, Desde aquele belo dia; O lar brilhava de amor Em luminosa alegria… Tudo paz e segurança!… Mas oito dias depois, Dona Aurora, a mãe de Antônio, Viúva rica e orgulhosa Quis ver a neta adotiva, Que parecia uma rosa. E fez terrível carranca… Irritada, disse à nora: — “Foi um mau passo, Constança!… Não aceito essa menina Partilhando a minha herança. “Não concordo com vocês, Nosso sangue ela não traz. Deus permita que ela morra, Que morra e nos deixe em paz. “Desde esse dia, a criança Adoeceu de repente; De corpo todo em feridas, Era um farrapo de gente… “O pediatra amparou-a, Fazendo esforço tremendo… Receitava, receitava, E a pequenina morrendo. Falou Constança ao marido: — “Vamos noutra direção. Você já terá ouvido, Em comentários a esmo, Quanto vale, em qualquer vida, A força da vibração. “Para mudar minha sogra, Vou mentir!… Direi que a neta, Enferma e triste, a morrer É sua filha direta… “Direi que não será justo Deixá-la assim desprezada, Que é sua filha, às ocultas, Com a nossa ex-empregada…” Antônio aprovou a ideia. Espantada, ouvindo a nora, Depois de grande silêncio, Assim falou Dona Aurora: — “Eu logo vi a trama, Essa empregada pamonha Conquistou meu pobre filho, Rapaz de pouca vergonha… “Nós duas vamos agir, Sem afronta ou desacato, A menina tem meu sangue, Precisa de muito trato. “É isso, Constança, é a vida Que nós sonhamos no bem, A fazer-se desengano, Ninguém preserva ninguém… “Você suporte meu filho Sem qualquer choro ou querela… Minha netinha querida!… Eu cuidarei também dela…” A menina, em poucos dias, De manhã para manhã, Estava agora mais linda, Com faces cor de romã. Após alguma semanas, Achando o momento exato, Antônio disse a Constança: — “Sou a você muito grato, Você não mentiu, querida, Essa criança tão bela É minha filha, de fato…” “Disse Constança, sorrindo, Na maior descontração: — “Antônio, se a menininha É sua filha, no lar, Passo então a declarar Que ela será também minha!… “O que houve não me humilha, Digo com justa razão… Sua filha é minha filha, Filha do meu coração!…” |