Palco Iluminado

Capítulo XVII

Vitória do amor



Era um casal invejável,

Antônio e Dona Constança.

Os seis anos de casados

Não lhes haviam trazido

A bênção de uma criança.


Declaravam-se cansados

De procurar medicina;

O bebê não vinha ao berço,

Nem menino, nem menina.


Certo dia, o esposo Antônio

Disse a Constança: “Querida

Você se lembra de Mena,

A nossa ex-empregada,

Há dois anos demitida?”


— “Recordo…” — afirmou a esposa,

— “Pois note”, tornou Antônio,

Falando compadecido:

— “Ela deu-me hoje notícias

Por telefone, a chorar…

Diz ter tido uma criança,

Sem casa para morar.


“Resolveu ser mãe solteira,

Reside em cantinho à-toa,

Dorme em paupérrima esteira

Por bondade da patroa…


“É pobre moça da roça

E disse que, se quisermos,

A criança será nossa,”


Dona Constança, contente,

Coração bondoso e amigo,

Gritou, jubilosamente:

— “Antônio, a filha de Mena

Não sofrerá desabrigo.


“Vendo você satisfeito,

Será nossa!… Não vacilo.

Irei à maternidade

Buscá-la. Fique tranquilo.”


Constança trouxe a menina,

No máximo de emoção,

Enquanto Mena, a mãezinha,

Chorava de gratidão.


Tudo mudou no casal,

Desde aquele belo dia;

O lar brilhava de amor

Em luminosa alegria…


Tudo paz e segurança!…

Mas oito dias depois,

Dona Aurora, a mãe de Antônio,

Viúva rica e orgulhosa

Quis ver a neta adotiva,

Que parecia uma rosa.


E fez terrível carranca…

Irritada, disse à nora:

— “Foi um mau passo, Constança!…

Não aceito essa menina

Partilhando a minha herança.


“Não concordo com vocês,

Nosso sangue ela não traz.

Deus permita que ela morra,

Que morra e nos deixe em paz.


“Desde esse dia, a criança

Adoeceu de repente;

De corpo todo em feridas,

Era um farrapo de gente…


“O pediatra amparou-a,

Fazendo esforço tremendo…

Receitava, receitava,

E a pequenina morrendo.


Falou Constança ao marido:

— “Vamos noutra direção.

Você já terá ouvido,

Em comentários a esmo,

Quanto vale, em qualquer vida,

A força da vibração.


“Para mudar minha sogra,

Vou mentir!… Direi que a neta,

Enferma e triste, a morrer

É sua filha direta…


“Direi que não será justo

Deixá-la assim desprezada,

Que é sua filha, às ocultas,

Com a nossa ex-empregada…”


Antônio aprovou a ideia.

Espantada, ouvindo a nora,

Depois de grande silêncio,

Assim falou Dona Aurora:


— “Eu logo vi a trama,

Essa empregada pamonha

Conquistou meu pobre filho,

Rapaz de pouca vergonha…


“Nós duas vamos agir,

Sem afronta ou desacato,

A menina tem meu sangue,

Precisa de muito trato.


“É isso, Constança, é a vida

Que nós sonhamos no bem,

A fazer-se desengano,

Ninguém preserva ninguém…


“Você suporte meu filho

Sem qualquer choro ou querela…

Minha netinha querida!…

Eu cuidarei também dela…”


A menina, em poucos dias,

De manhã para manhã,

Estava agora mais linda,

Com faces cor de romã.


Após alguma semanas,

Achando o momento exato,

Antônio disse a Constança:

— “Sou a você muito grato,

Você não mentiu, querida,

Essa criança tão bela

É minha filha, de fato…”


“Disse Constança, sorrindo,

Na maior descontração:

— “Antônio, se a menininha

É sua filha, no lar,

Passo então a declarar

Que ela será também minha!…


“O que houve não me humilha,

Digo com justa razão…

Sua filha é minha filha,

Filha do meu coração!…”