Passos da Vida

Capítulo XXVII

Ainda hoje



Irritavas-te, ainda hoje, no justo momento da caridade.

E pensavas contigo mesmo: “Valerá suportar a bílis do companheiro encolerizado, desculpar o insulto da ignorância, sofrer sem revolta aos golpes da violência e ajudar aos que me incomodam na via pública?”

Refletias a extensão do mal e confiavas-te ao desespero.

Entretanto, não se pode julgar o campo pelo talo de erva, nem avaliar espiritualmente a multidão pelo movimento da praça.

O amigo que te oferece o semblante áspero guarda provavelmente um espinho de aflição a espicaçar-lhe o peito, a pessoa que te injuria talvez padeça lastimável cegueira, a mão que te fere expõe o próprio desequilíbrio e esses rostos ulcerados que te pedem consolo trazem também consigo um coração suspirando por Deus.

Deixa que a bondade se externe por ti, estendendo a fonte da esperança e a melodia da bênção.

Silencia a palavra candente e apaga todo impulso de crueldade.

Ergue ainda hoje os que caíram. Amanhã, é provável necessites escudar-te naqueles que levantas.

Reflitamos no Eterno Amigo que passou na Terra, compreendendo e servindo, sem descrer do amor, embora sozinho nos supremos testemunhos da própria fé.

Ampara, alivia, ilumina e socorre sempre. Todo auxílio na obra do bem é uma prece silenciosa. E, toda vez que auxilias, o anjo da caridade está perto, orando também por ti.