Para quem sofre no mundo A morte seria um bem, Se a saudade não marcasse A nossa vida no Além. Das saudades que carrego Cousa alguma sei dizer… Coração sabe sentir Mas não consegue escrever. Afirmas que o nosso afeto Foi um sonho que passou; Desencarnei, mas não tenho Um coração de robô. Depois da morte, escrever-te Seria conversa vã; Não posso chamar-te “esposa” Nem quero chamar-te “irmã”. Meu estoque de lembranças, Tantos detritos concentra, Que a saudade me procura, Abro a porta e ela não entra. A morte destrói a posse De tudo que nos domina, Mas a saudade renasce De toda e qualquer ruína. Após deixarmos a Terra, O pior que nos alcança, É o suplício da saudade Que chora sem esperança. De amores, o amor que fica Sob a saudade tenaz É o amor silencioso Da união que não se faz. Passei por tantos desgostos, Tantas pedras que, hoje em dia, Apenas sinto saudades Das saudades que eu sentia. Estou feliz mas não livre, Tenho saudades de pai… Estou na “Dança do índio Que faz que vai mas não vai”. Uma trova de saudade?… Debalde tento compor. Cedo aprendi que a saudade É sempre filha do amor. |