Poetas Redivivos

Capítulo XXXIII

Bailarina



Lembro-me agora, sim… O crepúsculo entorna

Tons velutíneos de ouro entre nuvens de opala.

Entontece-te o vinho, a música te embala

E ofereces na dança a taça doce e morna.


Quantos caem no sonho em trágica madorna!

Arrastas sob os pés os corações sem fala…

Imperas, soberana; e obedeces, vassala;

Ninfa, volves da estrela e a lama te suborna.


Flor de gaze e cetim, na ribalta de Roma,

Hoje, trazes no peito horrendo carcinoma,

Em cujo lodo triste o pretérito arrasas.


No entanto, pela dor, hás-de reerguer-te, um dia,

E bailarás, no Céu, por vestal da alegria,

Exaltando o amor puro, ao sol das próprias asas!…