Poetas Redivivos

Capítulo XIX

Deus espera por ti



Não digas, coração, que Deus não tem

Necessidade do teu abraço amigo,

Quando Deus ama, serve e anda contigo

Para a glória do bem!…


Contempla, em torno, a imensa caravana

De que vais, lado a lado,

E o caminho empedrado,

Em névoa espessa da tristeza humana…


Deus aguarda o alimento

Que ainda hoje te sobre

Para atender ao prato humilde e pobre

Dos irmãos em penúria e sofrimento.


Deus espera de ti, ainda agora talvez,

A roupa que largaste em desuso ou fastio

Para vestir quem sofre, a tiritar de frio,

Entre angústia e nudez…


Deus conta receber-te a dádiva sem nome

Que quase nada ou pouco expresse embora,

Para dar pão e leite à orfandade que chora

E esmorece de fome…


Deus te pede a bondade oculta e santa

A suportar, com Ele, as lutas do caminho —

Injúria, lodo, fel, vinagre e espinho —

Para que o bem de todos se garanta.


Deus espera por ti, para sanar o caos

Provocado onde pises

Pelos irmãos rebeldes e infelizes

Que chamamos por maus.


Deus te reclama a voz generosa e serena

Com que fales de paz, tolerância e perdão,

A fim de remover a escuridão

Da cólera em que o mundo se envenena…


Seja agora ou depois, seja aqui, seja ali,

Onde enxergues sinais da dor alheia,

Onde a esperança morre e onde a fé bruxuleia,

Deus precisa de ti!…


Por isso, quando o bem por ti se aperfeiçoe,

Embora o mal te fira, espanque, estrague,

Diz o irmão a que apoias: “Deus te pague!…

Deus te ajude e abençoe!…”