Poetas Redivivos

Capítulo XXXVII

Coragem



Se o desânimo procura

Mergulhar-te na amargura,

Não olvides, meu irmão,

Que a vida por toda parte

É nova luz a buscar-te

Em doce renovação.


Na mágoa que te domina,

Repara a Bênção Divina

A brilhar, aqui e além…

Tudo é esperança e beleza

No trono da Natureza

Na glória do Eterno Bem…


Da noite estranha e sombria,

Assoma, envolvente, o dia

E a treva faz-se esplendor.

Do Inverno que dilacera,

Vem o Sol da Primavera

E o espinho revela a flor.


Da serra empedrada e feia,

Desce o regato que ondeia

Em generosa canção.

Do charco de baixo nível,

Desditoso e desprezível,

Ressurge o calor do pão.


Coragem! — recorda o ninho,

Suportando, de mansinho,

Toda a fúria do escarcéu;

E do além, tranquila ao vê-la,

Coragem! — repete a estrela,

Sorrindo no azul do Céu.


Assim também, cada hora,

Trabalha, porfia e chora

Guardando a fé clara e sã!…

Padece mas busca a frente,

Lembrando constantemente

Que o dia volta amanhã.




(Anuário Espírita 1967)