Poetas Redivivos

Capítulo LXI

Tempo



Diz-me o corpo, ao findar a jornada terrena:

— Deixa-me agora em paz! Não me prendas assim!

— Tempo!… Anseio mais tempo — exoro, vendo o fim,

Enquanto a morte ausculta a dor que me envenena.


Eis que o Tempo perdido, em pranto, surge à cena!…

Imploro: “Ah! Tempo amigo, abeira-te de mim,

Quero voltar contigo à estrada de onde vim,

Para amar e servir, segundo a Lei me ordena!…”


Ele, porém, não ouve e afasta-se em surdina…

— Vamos! — concita a morte — a luta não termina,

Não me atrases mais tempo à força de teus ais!…


— Onde o Tempo? — clamei, e a morte me elucida:

— Tudo terás de novo, o recomeço, a vida,

Mas Tempo gasto em vão, nunca mais! nunca mais!…