Essa mendiga que passa Vestida de trapo ao vento, De rosto cansado e atento Aos óbolos que lhe dão… Quem sabe porque te busca, Na dorida caminhada, Para deter-se humilhada, Pedindo socorro e pão? Não digas: “mulher da rua”, Nem penses “mulher sem jeito”. Guarda silêncio e respeito Se nada tens para dar, Que essa pobre, onde aparece, Tem a tristeza por guia, Por refúgio, a noite fria, E, às vezes, o chão por lar. Ao recebê-la, medita Em tua mãe viva ou morta, Jamais lhe cerres a porta, Nem lhe indagues de onde vem; Dá-lhe um momento de apoio A marcha triste e insegura, Em meio da desventura, Talvez seja mãe também. Recorda a infância risonha Em tua casa florida, As horas plenas de vida, A mesa farta ao dispor… As doces lições da escola, Entre o recreio e a merenda, A bola, a peteca, a prenda Nos brincos de puro amor!… Lembra a ternura materna, Como estrela, em toda parte, Teu pai chegando a beijar-te Aos meigos abraços teus… Durante o dia, os folguedos Que a segurança entretece, De noite, a bênção da prece E o sono pensando em Deus. Reconsidera contigo Que essa mulher, entretanto, Nasceu num berço de pranto E de pranto vive assim… Cresceu, rogando na rua O pranto da vida amarga, Sem que lhe visses a carga De mágoas quase sem fim. Acolhe-a com caridade, Restaura-lhe a força e dize A frase que lhe amenize O peso da própria cruz. Deus te manda essa mendiga, A fim de saber, ao certo, Se estás mais longe ou mais perto Da redenção com Jesus. |