Trouxe-me o ano passado A última e linda prova: Pois completei dez janeiros À luz da existência nova. Sou enfermeiro de jovens, Que foram “pinta travessa”, Com muita preocupação E muita dor-de-cabeça. Surgiram, porém, amigos Com bonita tentação: Desejam voltar ao mundo Em nova reencarnação; E convidaram-me, atentos, De modo claro e gentil, A partilhar-lhes a empresa, Marcada para o “dois mil”. Formarão equipe nobre De paz, amor e união, Doando ao progresso humano Mais luz e renovação. Não lhes dei pronta resposta, Deixei o assunto no ar… Para um pedido a mentores Era justo meditar. Não queria decisão Apressada ou discutida; Precisava ver a Terra Em novo padrão de vida. Desci pelo fio forte De minha grande saudade Para a terra generosa, Que é sempre “minha cidade”, Vaguei por ruas e praças… Tudo beleza seleta… Mas vendo a lista de preços, Fiquei um tanto pateta. Apartamento pequeno, Mais de cem mil no aluguel, Quantia de mês, contada Em compromisso e papel. Gasolina, cada litro, Quase quatro mil cruzeiros; Cafezinho, uma fortuna, Se tivermos companheiros. Seis mil o preço do arroz, Preço do óleo enlatado; Três mil, o preço do açúcar, Que se mostre refinado. O leite, sempre subindo, Parecia tal “barato” Que se a vaquinha soubesse, Fugiria para o mato. Vendo tanta carestia, Concluí, pensando mais: O que seria de mim? Que seria de meus pais? Busquei os caros amigos, Falando-lhes sem alarme Que, em vista da carestia, Não queria reencarnar-me. — “Que é isto, Jair?” — disseram. “Preços mudam cada hora, Com tempo, tudo evolui, No tempo, tudo melhora.” — “Nosso grupo de trabalho Completa-se com você…” Falou Vitório, um amigo, — “Agora, fazer o quê?” — “Então” — respondi tranquilo A meu amigo Vitório: — “Vocês voltam para a Terra, Eu fico no Purgatório.” |