Quando Juraci Borges Mendonça de Almeida, de 43 anos, desencarnou na UTI do Hospital Santa Helena, de Uberaba, Minas, a 4 de setembro de 1987, em consequência de angioma cerebral, não só seus familiares mais próximos sofreram com a sua passagem. Também Magda Borges Terra, sua prima de primeiro grau, muito padeceu, pois já acompanhava, hora a hora, a evolução daquela enfermidade que teve um triste final.
Elas não foram apenas primas ligadas por laços consanguíneos e uma amizade comum. Um afeto mais profundo entrelaçava esses corações, propiciando confidências recíprocas; cultivavam uma estima que vinha de há muito, com certeza desde encarnação anterior, nas posições de mãe e filha, segundo esclarecimento de Chico Xavier. Observemos, por exemplo, que Magda foi madrinha do primeiro casamento de Juraci e madrinha de crisma de Lara, filhinha de Juraci. E Juraci foi madrinha de casamento de Magda, tanto no civil como no religioso.
Com este pequeno preâmbulo, poderemos entender os afetuosos tópicos das cartas de Juraci, psicografadas em reuniões públicas do Grupo Espírita da Prece, nas noites de 27 de fevereiro, 04 de junho e 03 de setembro de 1988, tais como: “Conto isso a você, rememorando nossas confidências recíprocas.”; “sinto o seu coração palpitando junto ao meu.”; “Estamos unidas, coração a coração.”; “Você resguarde a sua saúde.”; “qual se neste momento, de profunda emoção, você fosse, acima de tudo, a minha própria filha a falar-me por dentro do coração.”
Minha querida prima e comadre Magda, peço a Jesus nos fortaleça e abençoe.
Estou cumprindo o que prometi. Dar notícias e mostrar que a união das criaturas afins não desaparece.
Digo a você que apenas passei por um remanejamento de hospital para hospital, com a diferença justa de ambiente. É que neste lugar abençoado onde me encontro, com auxílio de amigos e protetores queridos, o regime é diverso. Não estou entre as quatro paredes da cela curativa de nosso acolhedor Santa Helena, mas sim numa Instituição mais ampla, na qual os convalescentes, entre os quais me vejo, podem sair em determinados horários, cada dia, para respirar o ar puro do grande parque que nos rodeia.
Isso me consola e fortalece, porquanto surpreendo grandes doações de silêncio para refletir a sós, com mim mesma, quanto aos meus novos caminhos.
Curioso, minha querida Magda, é que a pessoa, pelo menos aquelas que se reconhecem na faixa de conhecimento parcial na qual estou estagiando, nada sente com referência ao temor da morte, que aí na vida física tanto nos atormenta.
Estamos desencarnados, mas não desvinculados, porque o amor é um laço de luz que nos prende uns aos outros, libertando-nos ao mesmo tempo pelas ideias novas que nos insufla.
Do que passou, no meu desprendimento do corpo cansado de preocupações e medicamentos: Um torpor muito grande me dominou e perdi a consciência de mim própria, durante horas, cujo número não estou, por enquanto, habilitada a dizer. Despertei-me num aposento espaçoso e acolhedor, e a enfermeira que me atendeu era a nossa Maria Amélia, uma revelação viva de paciência e tolerância.
Não acreditava que tudo de novo que caiu-me sob os olhos fosse uma paragem diferente, tamanha a similitude com os nossos pertences domésticos no mundo. Eu teria sido transferida de uma Instituição para outra. E somente, pouco a pouco, percebi que me achava num ambiente diverso do nosso.
Quando consegui me movimentar, comecei a tomar conhecimento daquele pedaço de solo, recoberto de vegetação balsâmica que parecia destinada, pelas exalações que destilava, a complementar minha cura.
Procurei os refúgios de oração e num deles me entreguei a revisar os últimos dias no corpo doente. Minha estrutura emocional estava mais leve e a acuidade dos meus sentidos me impressionava, despertando-me para a vida nova que eu começava a partilhar com outras pessoas, portadoras de remanescentes da condição enfermiça de que haviam sido acometidas nos tempos finais do corpo.
Mas creio que essas impressões você terá adivinhado. Por isso, passo às notícias a que me referi. Pensei no papai Geraldo e na mamãe Antônia, nos meus irmãos Lia e Valtinho, num misto de saudade e carinho que me envolvia a alma toda. E nesse contexto de lembranças, você e a nossa Larinha estavam juntas de mim.
A parte para mim difícil era a ausência do filho Pedro Geraldo, que parecia longe. Compreendi que o Hélio o retinha junto dele e o filho querido não podia gastar atenção e tempo, a recordar-me, segundo os meus desejos egoístas de mãe, ainda profundamente apegada à vida que eu deixara ou que me deixara, compelindo-me a aceitar outro clima e criar outras afeições.
Confesso a você que sofri com a perspectiva de ser esquecida por um filho, mas o diálogo com amigos improvisados me impeliu a reconhecer que eu não tinha razão. Conto isso a vocês, rememorando nossas confidências recíprocas. O ciúme passou de imediato e a compreensão voltou a me possuir os pensamentos.
Entendo que não posso me dirigir à nossa gente, com a espontaneidade dentro da qual trago a você o que penso agora e como penso; no entanto, não tenho o direito de me queixar. Toda realização exige preparo e se pude felicitar-me com alguma preparação, essa vinha de nossas conversações, que acabei lamentando fossem tão curtas.
Agradeço a você tudo o que vem fazendo por nossa Lara, a querida filha que atualmente passou à tutela de meus pais. Medito no Hélio e peço a Deus o abençoe.
Acontece que nos dias últimos, sinto o seu coração palpitando junto ao meu. Pedi permissão aos mentores que nos assistem para vir ao encontro da família, mas com o firme propósito de revê-la e ouvi-la. Doe-me observar o que você tem sofrido e peço-lhe coragem e fé em Deus.
Rogo ainda pela saúde e paz do nosso Paulo, a quem devo tanta dedicação. Que o nosso André Luiz seja o pequeno companheiro capaz de renovar as suas forças. Ele estampa na face o rosto paterno e, não obstante a infância verde em que se encontra, é um filho e amigo para todas as suas horas.
Rogo a você agradecer, por mim, à mamãe Antônia e à nossa querida Lia as preces que fizeram e ainda fazem pelo meu descanso. Recebo, comovida, todos esses benefícios, mas entendo o descanso solicitado por nossa gente, em meu favor: a palavra descanso é, naturalmente, substituída pela palavra fortaleza, porque não posso compreender que as mães consigam repousar. Os filhos são cordas vibrantes no coração e não consigo ser diferente das outras mães. Você me compreende e isso me reconforta.
Impossível pensar em céus, quando a alma está doente de saudade daqueles que se fazem amores de nosso amor, quanto sangue do nosso próprio sangue.
Qual você pode imaginar, estou coerente com as ideias que trocávamos e esteja convencida de que não a esqueço.
Nada posso fazer ainda, em vista do meu reajuste demorado, mas a oração consegue tudo aquilo que ainda não temos e me firmo nas preces com que suplico a Jesus o seu fortalecimento, ao lado do nosso estimado Paulo e das nossas crianças.
Querida, lastimo ser obrigada a interromper o fluxo de meus pensamentos, mas devo terminar em concordância com as disciplinas que nos regem aqui as manifestações. Saiba que não nos separamos. Estamos unidas, coração a coração.
Peço a bênção de meus pais e envio lembranças aos meus irmãos e amigos.
Logo que me for permitido, voltarei a comunicar-me, empenhando minhas forças, ainda frágeis, para entregar ao seu ânimo a chama do otimismo e da fé atuante e viva. Meus agradecimentos ao nosso prezado Paulo e destaco o nosso André Luiz para representar o meu amor, junto de nossas crianças.
Agradeço ao Valtinho os cuidados com minha filha e fico magoada comigo mesma por não saber alinhavar o meu reconhecimento a todos os nossos como desejaria fazer.
Esperando que você prossiga em seu abençoado caminho de entendimento da vida e de serviço ao próximo, beija-lhe a face, a prima e comadre que lhe devota todo o amor que se me represa no espírito, qual se neste momento, de profunda emoção, você fosse, acima de tudo, a minha própria filha a falar-me por dentro do coração.
Sempre a sua
1 — Magda —Magda Borges Terra, residente em Uberaba, à Av. Jesuíno Felicíssimo, 138.
2 — A nossa Maria Amélia — Maria Amélia de Souza Borges, avó de Juraci e Magda, desencarnada em Uberaba, a 18/9/1955.
3 — Papai Geraldo e mamãe Antônia — Seus pais, Geraldo Mendonça e Antônia de Souza Borges Mendonça, residentes em Uberaba.
4 — Irmãos Lia e Valtinho — Seus irmãos, Maria Aparecida Mendonça Toledo, Lia na intimidade, e Valter Borges Mendonça.
5 — A nossa Larinha — Sua filha Lara, do primeiro casamento, afilhada de Magda.
6 — Pedro Geraldo — Pedro Geraldo Borges Mendonça de Almeida, filho do segundo casamento, com Hélio de Almeida.
7 — André Luiz — André Luiz Borges Terra, filho do casal Magda e Paulo Terra.
8 — AGRADECIMENTO — “Meu eterno agradecimento ao estimado médium Chico Xavier, que permitiu reencontrar-me com a inesquecível prima e comadre Juraci, através de cartas tão fiéis, lindas e confortadoras. Agradeço também a dedicação de seu devotado colaborador nas atividades do Grupo Espírita da Prece, Dr. Eurípedes Humberto Higino dos Reis. Que Deus os abençoe cada vez mais nessa sublime tarefa de consolar e orientar tantas criaturas necessitadas.
Querida Magda, Jesus nos abençoe.
Estou ouvindo suas indagações e registrando suas vibrações de amor. Muito grata por todo esse mundo de encantamento que sua dedicação me suscita no âmago do Espírito.
Hoje é o dia do aniversário de meu Pedro e peço a você abraçá-lo em meu nome, tanto quanto à Lara que está sempre em meu pensamento.
Você resguarde a sua saúde. Não permita que leviandades alheias lhe furtem a tranquilidade.
Sei que muitos dos nossos não puderam crer em minhas palavras, nas primeiras notícias que me fora possível trazer, mas isso não tem importância. A mamãe Antônia e o papai Geraldo me aceitaram com reservas; no entanto, fizeram muito.
O Hélio não conseguiu pensar nas páginas que escrevi; entretanto, ele é bom e a generosidade e a compreensão formam a religião dos que desejam ser corretos e dignos. A paz, Graças a Deus, está comigo e quem possui a paz sabe esperar.
Esta carta ligeira visa notadamente a solicitar-lhe cuidados, a benefício de você mesma. Não se entregue às preocupações e emoções sucessivas. Equilíbrio é o melhor caminho para a saúde do corpo e da alma.
Agora, termino pedindo a você transmitir a todos os nossos o meu carinho envolvido em muitas saudades.
E você, receba os meus votos de paz e alegria, em todos os seus passos. Muito amor e reconhecimento da prima e amiga de todos os momentos,
Querida prima e querida comadre Magda, Jesus nos abençoe e fortaleça.
Amanhã teremos o primeiro aniversário de meu renascimento na 5ida Espiritual.
Estou sentindo, desde ontem, as suas impressões de saudade e tristeza, e peço a você não se mostrar inconformada com a nossa separação. Rogo-lhe viver e cumprir a obrigação de viver feliz, conforme os desígnios de Deus.
Você sabe. Trouxe comigo muitos problemas; no entanto, sei que a Bondade Infinita de Jesus não há de me desamparar. Deixei você num recanto de inquietações variadas e entrei noutro maior do que aquele em que você me conheceu, chorando e lutando por acertar com os preceitos que recebemos de Jesus.
Meu pai Geraldo e minha mãe, tanto quanto meus dois filhos, lembram-se de mim qual se estivesse viajando por outras paragens, quando estou ao lado deles fazendo tudo o que a Bondade dos Céus me permite em minha fraqueza, que é fraqueza mesmo ou insuficiência espiritual.
Mas aquelas nossas conversações e nossas preces estão vivendo comigo, revigorando-me para aceitar os desígnios do Pai Supremo, em meu próprio benefício.
Peço-lhe coragem e paz, a fim de que a vejamos menos doente e mais reanimada para o desempenho de sua missão, junto do Paulo e do filho querido. Não deseje morrer porque as suas melhoras talvez pareçam tardias. Use os seus remédios com a certeza de que Jesus os abençoa.
Sou pequenina trabalhadora do Bem e quase nada posso fazer por enquanto, mas a Infinita Bondade dos Céus ouve primeiramente os mais fracos e mais sofredores.
O esposo Hélio segue o caminho que Deus lhe assinalou, e espero que ele seja sempre feliz.
Todos os nossos estão vivos em minha lembrança e, naturalmente você, tendo abraçado uma fé sincera e constante, muito me auxilia a caminhar.
Querida Magda, os únicos mortos que conheço são os esquecidos e, mesmo assim, não são eles desconhecidos ou deslembrados de Deus. Anime-se e suporte as dificuldades do corpo físico, sem perder a sua paciência e espere por Jesus, que não nos abandona.
Mantenha no Espírito a convicção de que tudo vai melhor e de que você está melhorando. Os pensamentos positivos são âncoras que nos garantem a segurança. Recorde a nossa amizade e reconhecerá que essa bênção não pode ser destruída. Trate o corpo com o carinho que ele requer, qual se fosse o barco de que você necessita para viajar no mundo físico, e guarde a convicção de que um porto de paz e renovação nos espera a fim de sermos felizes como sempre.
Quatro de setembro! Dizem que teremos a primavera em breves dias. Para você ofereço as mais belas flores, e peço a Jesus para que o perfume da primavera próxima enriqueça o seu coração e o seu lar de muita alegria e paz.
Confiando no seu espírito de aceitação dos Desígnios de Deus, num grande abraço, com muitos beijos de irmã para irmã, sou muito mais do que a prima e a comadre a que você se refere com tanto carinho, sou a sua irmã da Espiritualidade, sempre juntas numa amizade real e no carinho sem adeus.
Sempre a sua