Presença de Chico Xavier

Capítulo IX

Na trilha de Chico Xavier, em Campos



Como sempre lúcido em seus apontamentos sobre Chico Xavier, atentemos para o que diz Clóvis Tavares sobre o que se desenrolou naquele famoso sábado, 27 de julho de 1940, em Campos:


“Na secção “CAMINHEIROS DA VERDADE” — Em seguida, todos nos dirigimos para o Grupo “Caminheiros da Verdade”, que é outra secção da Escola Jesus-Cristo, funcionando à rua Formosa, 24.

Fizeram breves alocuções os irmãos 5irgílio Paula e Domingos Serpa Júnior e a irmã Inaiá de Paula, co-diretora do Grupo, pregou sobre “Amizade a Jesus”, baseada em João 15:14.

O médium Francisco Xavier recebe, em seguida, três mensagens: a primeira, de Des Touches, sacerdote católico na última encarnação, havendo vivido em Campos, onde foi um Francisco de Assis pela sua imaculada vida de humildade, de pureza e de dedicação a Deus: um cristão de verdade, caridoso e justo. A segunda foi de Sílvio, filho de Amaro Lessa, desencarnado num desastre, aos 11 anos de idade; e a 3ª, de Olímpia de Andrade, que professou o protestantismo na última existência e era mãe adotiva do irmão Artur Xavier dos Santos.

Leiamo-las:


MENSAGEM DE DES TOUCHES

O amigo de Jesus é o caminheiro da verdade.

O Evangelho é o seu roteiro, a fidelidade é a sua força, o amor a sua razão de viver. Os que se desligam das emoções penosas do mundo, em Jesus Cristo, experimentam em seus espíritos a luz intensa e eterna de uma alvorada nova. E as ilusões da vida terrestre são igualmente emoções penosas e tristes para as almas, em sua visão verdadeira da vida real.

O amigo do Mestre é aquele que se tornou o devotado companheiro de seus irmãos; é o que se fez um com o Cristo, como Jesus se fez um com o Pai. Não há condição mais bela, nem mais feliz, que a do homem que, embora em luta purificadora na Terra, se entregou ao coração d’Aquele que é a claridade abençoada dos séculos terrestres. O amigo de Jesus sabe receber sua boa dádiva em todas as características do seu caminho de esforço e de redenção. Para ele a flor tem uma linguagem, com o raio de sol que lhe traz a vida. Sua estrada está cheia de sugestões sublimes e carinhosas. Sabe vencer o sucesso e o infortúnio, compreendendo que só a Jesus cabe a vitória final e a glória inteira do bem. Seus passos desenvolvem-se na senda da renúncia perfeita, pela tranquilidade de seus irmãos. Suas lágrimas secam os prantos alheios, suas dores aliviam as outras dores. Suas demonstrações não são ruidosas e a renúncia é o seu modo de agir para que se anulem todos os conflitos da violência e todos os antagonismos do mal.

Os verdadeiros cristãos, recebendo as dádivas generosas do céu, em seus espíritos, através das luzes da Nova Revelação, necessitam entender esse apelo profundo do Evangelho. A amizade de Jesus, no culto interno do coração, deveria representar o programa de cada dia, o dever primordial para todas as expressões de existência e de obrigações. É que essa união com o Cristo é o escopo de todas as atividades do homem no planeta. O canto da ambição e do egoísmo fez com que o mundo adormecesse sobre as falsas ideias de redenção. A própria família cristã, em suas primeiras manifestações de fé, não conseguiu ainda entender e aplicar esse ideal de integração e de amizade que o Mestre pede aos seus discípulos. A discórdia lavrou em suas fileiras o incêndio das grandes dimensões.

Há irmãos que se repelem uns aos outros, sem compreender que sem esse testemunho de amor ao companheiro do mundo, muito menos poderemos testemunhar amizade e dedicação a Jesus Cristo.

Nossas almas, através de vidas numerosas e de difíceis experiências estão exaustas dos enganos que operam o nosso estacionamento a caminho dos triunfos do espírito. Recordemos quanto nos pede o mundo pela fidelidade às suas ilusões. Vejamos o quadro onde havemos repousado, distantes da situação de amigos de Jesus. Quando damos curso à mentira, temos de cair nos seus laços; quando violamos o bem alheio pagamos, na consciência, um preço terrível e doloroso. Quando erramos, somos compelidos, às vezes, a angustiosas retificações. Se desperdiçamos o tempo, temos de reconstruir com asfixiante amargura. Esses são os preços da Terra para os nossos desvios da amizade a Jesus.

Se o mundo exige tanto, reconheçamos agora que o Mestre quer apenas de nós o coração bondoso e unido a Ele, através de nossa integração com todas as criaturas.

Nesta noite, amigos, tomemos por tema essa grande meditação.

Como amigos inconscientes do mundo e esquecidos do Evangelho, nossas dívidas serão amargosas, sem qualquer perspectiva de paz para a alma exausta no caminho da experiência, e como amigos de Jesus, seremos os amigos conscientes e fraternos do mundo, sem débitos escabrosos e sempre prontos ao bom trabalho com o Mestre, dentro das radiosas perspectivas de sua paz e de seu amor.

Esta é a minha humilde lembrança, não somente para vós os que mourejam no caminho das lutas materiais, mas também para nós os que trabalhamos, fora dos liames da carne, na execução das tarefas santificantes do espírito.

Sejamos, pois, em todos os instantes de nossas atividades, os amigos sinceros e reais de Jesus.



Meu querido papai, peço ao seu bom coração, bem como a mamãe que me abençoem.

Os Espíritos caridosos do lugar onde me encontro me trouxeram hoje para rever a casinha muito amada, os pais carinhosos e queridos, como o fazem de vez em quando.

Eu estou alegre e peço ao senhor que prossiga confortando a mamãe na sua saudade imensa. Eu também sofri muito com a nossa separação.

O desastre me havia deixado impressões muito dolorosas, mas eu agora sei, como o senhor e mamãe hão de saber, mais tarde, porque tudo aquilo aconteceu.

Tudo foi justo e a minha partida fez com que o seu coração se elevasse a Jesus num caminho de santo fervor. O senhor hoje crê; tem paciência, é amigo das criancinhas.

Eu trazia uma grande saudade de casa, quando escutei na Escola Jesus Cristo aquela história do bezerro que se havia separado de sua mãe. E então compreendi que o senhor e a mamãe atravessaram muitos obstáculos e para irem ter com o filhinho inesquecível encontraram forças para a estrada que vai até Jesus. Penso que o nosso lucro espiritual foi muito grande.

Diga a mamãe que nunca a esqueço. As cousas que me foram ensinadas, em casa, não esqueci em hora alguma. Em todos os momentos difíceis, lembrei-me do bom procedimento que ela sempre desejava de nós.

Tive muita saudade de nossos passeios, de meus estudos que se iniciavam, mas sei que o maninho José Carlos me substituirá muito bem, junto da afeição de todos em casa.

Quando eu não tinha resignação, diziam-me aqui que o senhor e a mamãe são também filhos de Deus como eu, e isso me aliviou. Penso, desse modo, que lhe contando essas cousas o senhor se animará sempre e cada vez mais para o bom trabalho em que se encontra.

Quando for em auxílio dos pequeninos desfavorecidos pelo mundo, mas nunca esquecidos de Deus, o seu coração há de me ver no sorriso de todas as crianças a quem estimar como seus próprios filhos. Eu estarei satisfeito com isso e pedirei a Jesus que conte as vezes que o senhor e mamãe sorriram para os pequenos desamparados e quando for feita essa conta, eu hei de multiplicá-la com o meu coração afetuoso e hão de ver que o Silvinho há de ser atendido pelo céu.

Agradecendo a Jesus essa alegria de lhes enviar uma palavra para casa, em continuação ao pouco que já tenho feito, recebam o beijo do filhinho que hoje é também um seu irmão,



DECLARAÇÃO DE AMARO LESSA SOBRE A MENSAGEM DE SEU FILHO

“Esta mensagem é absolutamente autêntica. Por simples afabilidade não me seria lícito assim afirmar, se algum resquício de dúvida tivesse. Sem sombra de vaidade ou pretensão de sabedoria, mas, seguindo as recomendações de Allan Kardec que nos incita a examinar cuidadosamente as comunicações de além-túmulo, a fim de não cairmos em falsa orientação doutrinária, ministrada por Espíritos enganadores, asseguro que me despi da emoção natural para analisar com cuidado o seu teor. Sílvio deixou a Terra com 11 anos incompletos; cursava já o ensino secundário, sempre fora muito estudioso, comportado e obediente, e, em qualquer circunstância mostrava-se estoico para não nos afligir. Tocou em pontos absolutamente desconhecidos, mesmo de muitas pessoas de nossa família, cuja realidade é indiscutível. Estas pequeninas cousas são poderosas para identificar sua personalidade, como um rigoroso exame de contexto das mensagens instrutivas, de ordem doutrinária, identifica a pureza ou não dos propósitos dos Espíritos que as transmitem, deixando trair sua origem. Não venho soprar na trombeta de Josafá, como disse Humberto de Campos, para me fazer crido nem pretender com isso arranjar adeptos para o Espiritismo. Nem o Espiritismo anda à procura de crentes, nem eu de publicidade. Entretanto, assim como a doutrina tem por finalidade fazer cristãos, sem se preocupar com a religião que abracem,julgo de meu dever não esconder sob o alqueire uma luz que poderá iluminar outros corações. Só por isso aquiesci na publicação da mensagem e me externo sobre a mesma. À semelhança de quem indica um remédio ao doente sem contudo obrigá-lo ao seu uso eu digo que à luz da Revelação Espírita ganha-se muito esclarecimento e muito conforto moral, sem todavia, aconselhar a quem quer que seja que perambule pelas sessões mediúnicas, mas que examine o maior livro que a humanidade recebeu até hoje: o Evangelho de Jesus Cristo.



AINDA A MENSAGEM DE SÍLVIO LESSA

“Apenas algumas linhas sobre a mensagem de Sílvio, visando trazer mais um testemunho da inegável verdade espiritual que afirma a relação contínua entre os dois planos da vida. Sílvio declara na mensagem: “Eu trazia uma grande saudade de casa, quando escutei na Escola Jesus-Cristo aquela história do bezerro que se havia separado de sua mãe. E então compreendi que o senhor e a mamãe atravessaram muitos obstáculos…”

Essa história é uma pequenina parábola de Sadu Sundar Singh, o célebre filósofo cristão da Índia. Ei-la, em síntese: Um camponês, guiando uma vaca e um bezerrinho, desejava atravessar um riacho. Mas, à margem do regato, a vaca detém-se, não querendo traspassá-lo. O camponês jeitosamente procura conduzir o animal, mas, este, rebelde, continua imóvel. Cansado, depois de vãos esforços, o campônio teve uma ideia, pondo-a em prática. Segurou nos braços o bezerrinho e o levou para a outra margem do ribeiro. Vendo a vaca o seu filhinho do outro lado, dá por finda a sua rebeldia e atravessa o riacho para juntar-se ao seu filho. O Sadu relembra que a Providência utiliza esse processo para encaminhar criaturas que se conservam à margem do rio da verdade, não animadas a atravessá-lo: o afastamento dum ser querido para o Além produz, muitas vezes, a disposição de amor e obediência às realidades espirituais do Outro Lado da vida.

Esta é, em síntese, a parábola de Sundar Singh. E eu a relatei, de fato, há cerca de um ano na Escola Jesus Cristo: uma vez numa aula das crianças e outra vez numa sexta-feira à noite, na reunião doutrinária. E numa dessas vezes, ficamos sabendo pela mensagem, esteve presente Sílvio Lessa, que gostou da comparação do Sadu indiano e a ela se referiu em seu comunicado.

Por não esquecer que há materialistas no mundo e nem escasseiam no planeta os desconfiados, devo declarar que o médium Francisco Cândido Xavier não conhecia a parábola do filósofo hindu, nem no momento eu me recordava dessa simples ilustração há muito tempo citada. É mais uma prova da presença invisível de nossos irmãos libertos da carne, confirmando aquela soleníssima afirmativa do autor da Epístola aos Hebreus: “nós estamos rodeados de uma grande nuvem de testemunhas.” (Hb 12:1).





“FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER EM CAMPOS, EM VISITA À ESCOLA JESUS-CRISTO”, lembrança do 5º aniversário da Escola Jesus-Cristo, 27-10-1935 — 27-10-1940, Tipografia Soares, Campos, Estado do Rio, págs. 29-38.


Das mensagens a que se refere Clóvis Tavares, deixamos de transcrever somente a terceira. (Cf. , págs. 39-46).


Esta mensagem foi também publicada pela editora VL e são os seguintes capítulos do livro “Luz na Escola”: ; ; .