Registros Imortais

Capítulo LXVII

Preleção educativa



67ª reunião | 27 de fevereiro de 1958


: Arnaldo Rocha, Ênio Santos, Elza Vieira, Francisco Gonçalves, Laura Nogueira Lima, Geni Pena 10avier, Lucília Xavier Silva, Francisco Teixeira de Carvalho, , Antônio Inácio de Melo, Edite Malaquias 10avier, Gil de Lima, Aderbal Nogueira Lima, Zínia Orsine Pereira, Geraldo Benício Rocha e Waldemar Silva.


Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!

A morte surpreendeu-me em minha terra natal, não obstante não ser moço, mas ainda cheio de anelos.

Como todo pai ativo e trabalhador, desejava ver os meus filhos formados, porém a surpresa foi extraordinariamente desagradável, acrescida ainda de penosa lembrança de ver os meus filhos, minha esposa, meus amigos, discípulos, que eu julgava terem se esquecido do velho professor, derramarem lágrimas e levarem à beira do túmulo o testemunho de uma amizade, de uma admiração e de um respeito extraordinários!

Confundia-me essas manifestações, porque não compreendia que houvesse morrido!

Sentia dores, chorava, sentia que choravam por mim; me dirigia a todos e ninguém me reconhecia, ninguém me falava, então meu corpo enregelado desceu para a terra.

Enlouqueci e saí como um doente, gritando por socorro, misericórdia, Senhor, e caí de joelhos no velho adro da Matriz.

Orei com as forças e a fé de um cristão.

As portas se abriram novamente, de par em par, e cantei um Te Deum pomposo, com músicas, com orquestra dirigida por velhos músicos que me receberam, e alguém me sussurrou que eu estava no Céu.

O ambiente festivo, sagrado, o respeito por aquela religião que eu embalara a alma durante toda a vida tranquilizou-me um pouco e permanecemos, assim, vários dias. No entanto, o coração da esposa e dos filhos, as lágrimas, a voz dos amigos por intermédio de preces pedindo que o Senhor me conservasse no Céu, me perturbavam como vento sacudindo a árvore no meio do campo. E pude fugir àquelas cerimônias, apesar de respeitáveis, mas extremamente pomposas, que não satisfaziam a minha alma inquieta, porque eu desejava consolação, eu desejava entendimento na minha situação como homem, como morto, como criatura, e não podia ver, sobretudo, a minha escola, os meus alunos dispersos, e nessa preocupação orei novamente.

Então um magneto poderoso atraiu-me a cidades desconhecidas. Passei novamente a ver discípulos que não mais me preocupava com eles.

Fui levado a uma assembleia semelhante a esta e vi, então, que a nova geração tinha conhecimentos que eu nunca supus. A alma não estava condenada aos Céus, ao Inferno, ao Purgatório. Havia uma sequência maravilhosa de vida exuberante de inteligência, de amor, de progresso, de entusiasmo em torno de tudo e de todas as coisas! E com alegria eu vi que eu fazia parte dos seres vivos e inteligentes da vida! Eu não era o fantoche, a alma inanimada, metamorfoseada no meio de uma igreja secular. Bela, respeitável embora, mas que não sentia as dores mesmo daqueles que eram fibra do meu próprio coração, daqueles que eram o sangue do meu sangue, daqueles que vibravam entrelaçados e harmoniosamente com a minha alma!…

Espantou-me, surpreendeu-me, que nessas assembleias respeitáveis clérigos nelas tomassem parte: D. Joaquim, D. Silvério, padre Caldeira e vários e respeitáveis amigos, juízes, militares, advogados, médicos, religiosas e velhos mestres de escola!

Aquela força continuava como que balouçando, ninando a minha alma, e os conhecimentos vinham, pouco a pouco, como alguém cansado que galgasse uma montanha e com o sopro da brisa fosse assenhorando-se de si mesmo.

Meu coração encontrou tranquilamente aquela paz, aquela harmonia de discernir, alegria de viver, o contentamento de saber que eu poderia ainda produzir, aprender, ensinar, chorar, rir e aconselhar.

Procurei os meus filhos, o ceticismo inquietante dominava-lhes a alma. Por maior entusiasmo que lhes falasse sobre a minha descoberta da nova ciência de viver, eles mantinham-se ignorantes, incrédulos da situação. Então veio-me à memória: “Quem é o meu pai? Quem é a minha mãe? E quem são os meus irmãos? Vós os conheceis?” (Mt 12:48) — palavras da Sagrada Escritura. E vi então nos velhos discípulos que eu ainda tinha-lhes um carinho como de meninos; criaturas cujas mentes desenvolveram-se grande e brilhantemente no setor das ciências psíquicas, e a nova filosofia empolgou-me a alma.

Louvado seja o Senhor! Os méritos não tive, mas a misericórdia de Deus premiou-me o esforço de bem servir à juventude da minha terra que a mim havia sido confiada. E as preces, as lembranças carinhosas, eram como que gotas de orvalho que iluminavam, acalentavam a minha alma cheia de dissabores.

Passei a ver então na assembleia a mão divina que me orientava para uma compreensão maior, para um mundo melhor, para um mundo diferente, de utilidade, de compreensão e de progresso para todas as criaturas humanas. Passei a fazer parte dessa assembleia — ela se interligava a outras assembleias na sucessão dos conhecimentos, na dilatação do meu Espírito, da minha visão e do meu entendimento.

E eis que aqui vim, ligado que estou a muitos desta casa. E é a primeira vez que vos falo como Espírito, não obstante ser membro integrante dos Espíritos do Senhor. E a minha alma se engrandece na grandeza do Senhor por louvar-lhe a misericórdia, a bondade e as bênçãos que nos concede.

Saúdo, pois, aos filhos de Deus, aos amigos que se congregam nessas assembleias, e agradeço-vos a hospitalidade. Aprenderei convosco, viverei os vossos problemas de iluminação e de discernimento, e naquilo que as minhas humildes possibilidades puderem estarei como o obreiro da última hora, construindo o pálio luminoso que nos amparará da ignorância constante!




Comunicação recebida pelo médium Geraldo Benício Rocha, do Grupo Meimei, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais.