Resgate e amor

Capítulo XI

Quinta mensagem



Querido papai Hélio e querida mãezinha Sayoko, estamos aqui, mais juntos e compreensivelmente mais ajustados uns com os outros, pela redescoberta de mim mesmo.

Sei que os entraves do presente merecem nossos comentários, pela situação difícil que as condições de trabalho estabelecem para quantos se dedicam ao trabalho, sob a legenda da ordem, mas é preciso me volte na direção do passado para clarear os nossos problemas que, de começo, pareciam insolúveis.

Nestes últimos meses, tenho adquirido crescimento mais amplo. Não digo isso, com referência a tamanho, mas sim com relação ao domínio de minhas lembranças de vidas anteriores, nas quais estivemos unidos.

Papai Hélio, o avô Torao tem me auxiliado sempre, desde a minha chegada ou regresso à Vida Espiritual. E agora o meu avô Kinjiro nos compartilha dos estudos e lições.

Nada tão belo como rememorar os nossos tempos felizes em nossas ilhas fabulosas. Aqueles mares inesquecíveis coalhados de pequenos continentes, cobertos de flores, não me saem das reminiscências.

Atualmente, em companhia de meus avós, tenho voltado vezes frequentes, a todos aqueles santuários da Natureza, reverenciando os nossos antepassados e arquitetando planos de trabalho que nos façam um futuro sempre melhor.

Dói-me recordar que, um dia, fui obrigado em outra veste física a determinar que o senhor praticasse o Hara-kiri, depois de um processo rude em que a verdade não apareceu no tempo devido.

Sucede que um desfalque de proporções enormes havia surgido em nossos negócios que abrangiam filiais em várias cidades.

Desinformado pela insegurança de quantos agiam tentando a nossa separação, não vacilei em aplicar-lhe pena assim tão amarga, mas creia que pela amizade fiel que nos entrelaçava os corações, depois de vê-lo desaparecer em tão lamentável acontecimento, passei, de minha parte, a ser um chefe igualmente morto, conquanto ainda vivesse para morrer vagarosamente, nas garras do remorso, mormente, quando vim a saber que o endereçara a sofrimentos injustos, porque o suposto desfalque atribuído ao seu nobre caráter fora praticado por um irmão, companheiro de minha própria consanguinidade, que soubera se ocultar de tal modo que o meu gesto, contra o seu caminho irrepreensível de homem de bem, se tornou a causa de minha própria desencarnação, desprestigiado que me sentia, por minha própria consciência, pouco tempo depois da sua volta a Vida Espiritual.

Envergonhado fui socorrido por seus próprios braços de amigo, ao me desvencilhar do corpo vencido por pesados desgostos e eu que nunca havia chorado na existência de que provinha, aprendi a derramar aquele pranto de remorso que se assemelha a gotas de vida, a nos desfazerem a própria alma.

Pedir-lhe perdão pela minha atitude agressiva e imperdoável, foi tudo o que pude fazer em nosso reencontro, mas, ali mesmo, ante os céus de Kioto, implorei aos nossos antepassados me doassem, um dia, a mesma sentença ao seu lado, de modo a me sentir exonerado do arrependimento que me feria todas as fibras do Espírito.

O seu amor de amigo recolheu-me com carinho as manifestações de sofrimento e passamos a trabalhar de forma inversa. Eu que lhe dirigia as atividades, passei à subalternidade, acatando-lhe as instruções.

O tempo se desdobrou sobre o tempo, os dias se desfizeram no parcelamento das horas, até que vi muitos de nossos amigos criando, com a futura mãezinha Sayoko o seu reingresso na experiência física.

Acompanhei-lhe o retorno, segui os seus passos vacilantes de pequenino que recomeçava a lutar para consolidar-se no campo terrestre e, quando se deu o reencontro do papai Hélio e da mãezinha Sayoko, na Terra, reconheci que a minha oportunidade havia chegado.

Com o auxílio dos que nos amam, renasci para amá-los cada vez mais, na condição de filho, e nessa mesma figuração, com a aprovação de nossos avós, sofri a pena igual a que lhe impusera.

Desde o instante em que me vi liberto do corpo material, uma alegria imensa se apoderou de mim e aqui estou, depois desta digressão, para dizer-lhes que a nossa vida obedece a leis que se cumprem para a nossa felicidade real.

Decretara a morte de um amigo que muito amava, enganado por um irmão que, decerto, foi entregue ao mesmo império da lei, no entanto, passei pela mesma prova com o amor do companheiro transformado em pai amoroso e sensível, sob o carinho da mãezinha Sayoko que hoje tenta compreender a solução do nosso problema que passou aos arquivos do tempo.

Agora, papai Hélio, os horizontes se me abriram e estamos entrosados um com o outro na mesma continuidade do trabalho que retomamos sob o céus do Brasil.

Louvada seja a Providência do Senhor que nos perdoa, permitindo-nos resgatar as contas da vida com o amor e fé nos princípios que nos governam.

É por isso que hoje não estou escrevendo sob o aspecto do Tiaminho que se reconscientizou na Espiritualidade. O amor cobre os erros humanos (1Pe 4:8) e a prova disso é que me encontro aqui, agradecendo o ensejo que me foi concedido para esta confissão clara e certa.

Que minhas queridas irmãs se desenvolvam cada vez mais para cumprirem na Terra as mais belas tarefas de que se façam capazes, são os meus votos e ambos, meus pais queridos, recebam a alma toda, com todo o jubiloso reconhecimento do filho, sempre muito feliz e muito grato.


27 abril 1983.



Avô materno Kinjiro Yoda, falecido a 11 de março de 1981 em Taboão da Serra, SP, aos 69 anos.


Kioto, antiga capital do Japão.