Revelação

Capítulo II

Luta de um pai



O Coronel Minervino

Era rico fazendeiro,

Segundo a fala do povo

Guardava muito dinheiro.


Ao perder a esposa morta,

Dona Libânia Maria,

Caiu em doença grave

Entrando em paralisia.


A clamar e a lamentar-se

Sozinho num casarão,

Tomou por filho adotivo

O órfão Sebastião.


O menino que era pobre,

Mas, pobre a mais não poder,

Não mostrava a inclinação

De servir e obedecer.


Na escola era mau aluno,

Preguiçoso e respondão,

Quase todos os colegas

Tinham medo do Tião.


O coronel evitava

Falar-lhe em renúncia e paz,

Queria encontrar no filho

Um atleta forte e capaz.


Muito em breve fez-se moço

Bonitão e gastador.

Usava as notas do pai

Como papéis sem valor.


Não aceitava conselhos

De estudar ou de parar,

Tinha ele um pai tão rico

Para que se incomodar?


Mas, ninguém foge a mudanças

Que aparecem ano a ano;

O coronel via no filho

O seu pior desengano.


Estava pobre e doente

Pagando agora os juros

Das quantias emprestadas

Para resgates futuros.


Piorando, piorando…

Nada mais tinha de seu…

Numa noite triste e fria

O coronel faleceu.


Tião chorou, mas, lembrou-se

Dos seus tempos de criança;

De certo receberia

Do pai morto grande herança.


No outro dia, forte e ansioso

Mantendo o seu sonho inglório,

Foi chamado para ajustes

Registrados num cartório.


O escrivão plantonista

Informou-o, num momento,

Que o pai morto não deixara

O mínimo testamento.


Deixou uma carta apenas

Com cuidado e distinção,

Documento dirigido

Ao filho Sebastião.


O rapaz abriu-a logo,

Era algum informe enfim…

Quem sabe maneava herança?

A carta dizia assim:


“Tião, terminam agora

Meus dias atribulados,

Todos os bens que me restam

Estão hoje hipotecados.


“Não lhe deixo herança alguma,

Estou pobre e sem valia,

Meu filho, tudo lhe dei

E agora chegou meu dia…


Nada mais tenho a lhe dar

Mas se você quer dinheiro,

Muito dinheiro a gastar,

Busque o bem, fazendo amigos

E comece a trabalhar.”