Procurando distração, Fui, contente, ao carnaval! Muito ouvia em torno dele E quis vê-lo ao natural. Apelei para João Panca, Um prestimoso vizinho, Que não me deixasse a sós, Não queria estar sozinho. João concordou comigo, Era sempre o companheiro… E lá nós fomos, os dois, Ao passeio, dia inteiro. João falava na caridade, Mas a festa estava à espera; Era preciso seguir, Beneficência “já era”. Já que falava em virtude Chamei-o a ver Dona Bela, Que nos atirou um vaso, Pingando água amarela. Conquanto desapontado, Visitamos Dona Aninha, Que nos jogou sobre o peito, Duas “joias” de galinha. João mostrava-se amargurado, E como alguém que se poupa, Regressou à própria casa, A fim de trocar de roupa. Encontrei um grande praça, Léo, filho de Dona Esther; Ele pediu-me, alterado, Uma saia de mulher. Todo amigo dava gritos, Nessa festa sem sentido, Afirmava Dona Clara, Ter a calça do marido. Vi flautas e violões, Passando, em busca ao sem-fim, Muita gente me chamava, Ao lado dos tamborins. Um homem que carregava, Dois chocalhos, uma vara, Não sei se foi por querer, Esmurrou-me a própria cara. Carnaval representava, A festa do meu País, Por isso segui em frente, Tão forte quanto feliz. Era justo conhecer Uma festa semelhante, Por isso aceitei sem mágoa, A agressão extravagante. Fui buscar, querendo um grupo, O amigo Simão Veloz, Ele queria cantar, Mas “rugia” junto a nós. Meus amigos sempre muitos, Pareciam-me doentes, No entanto, não quis deixá-los, Ao vê-los irreverentes. Venci diversos empeços E fui ao Tino da Chalaça, Ele, porém, nem me viu, Estirado na cachaça. O povo todo dançava, E eu olhava sem remoque, Achava muito esquisita, A orquestra chamada Roque. Um homem sério abriu alas, Era o melhor dos Nicolas, Lembrava antigo palhaço, Exibindo Cabriolas. Perguntei a um guarda amigo, Que a ninguém queria mal, Só desejava saber, Se estava no carnaval. Ele disse: Olhe as crianças, Todas dançam recordando Nossas futuras mudanças. Vi um par, a longos beijos, Na sombra de velho muro, Como a dizer que o amor, Só se revela no escuro. Disse o amigo: — Se o senhor quer demorar-se, Procurando amigos maus, Dê-me logo oitenta paus. Dentre os quadros que anotei, Vi o mestre Manassés, Que dançava e requebrava, Da cabeça até os pés. Um conflito sucedeu, Vendo a filha de Nereu Nos braços de outra pessoa, Genuíno enlouqueceu. Achei-me desencantado. Eu que entrara reverente. A fim de largar o grupo Precisava ser valente. Retornei a nossa casa Meditando, por sinal, Se o carnaval que assistira, Que seria? bem ou mal? Pensei em meu pai distante, Minha mãe falou: — Na vida, O carnaval é loucura, Doença desconhecida. |