Não se soube de onde vinha. Seu nome — Tuca Tinteiro. Vendia tintas na rua E tinha muito dinheiro. Dava conselhos aos pobres, Buscando escolher a quem, Mas do dinheiro no cofre, Não amparava ninguém. — Seu Tuca — disse Ana Clara, Sou viúva de João 10isto. Tuca, porém, replicava: — Não tenho nada com isto. — Seu Tuca, preciso tempo, Rogava Dona Ziúra. No entanto, ei-lo que lhe arranca A máquina de costura. — Seu Tuca, empreste-me cem… Pagarei quando voltar. — Diz Tuca: você falhando, É mais cem para acertar. Tuca se via tristonho, Faltava-lhe um companheiro; Entretanto, era seu lema: Dinheiro, dinheiro e dinheiro. Declarava-se usurário E dizia: — Quem não é? Sem dinheiro no meu bolso, Não tomo nem um café. — Pobreza não é meu fraco, Detesto a vida na roça; Quero dinheiro comigo, Papel ou moeda grossa. — O meu regime de vida , É necessário a qualquer, Filosofia de todos Seja homem ou mulher. E assim vivia Tinteiro… E a falar palavras feias Cobrava um simples tostão, Tomando terras alheias. Num domingo, entre os amigos, Pitando e contando casos, Quando viu certa mulher, Falando-lhe em conta e prazos. Ele ia responder Mas tombou com dor tão forte, Que a mulher veio abraçá-lo. Era ela a própria Morte… |