(O Livro dos Médiuns )
Quase todos os que se abeiram das atividades espíritas estimariam o desenvolvimento rápido das faculdades psíquicas de que são portadores e, por vezes, quando não atendidos, padecem nocivo arrefecimento de ideal.
Esmaece o fervor dos primeiros contatos com a fé, porque o propósito fixo de surpreenderem o milagre transforma-se neles em aflitiva obsessão. Contudo, há singularidades no assunto, que não podemos menosprezar.
Que seria da ordem e do equilíbrio dos serviços terrestres, se a totalidade das criaturas, instruídas ou não, se pusessem a investigar quanto à vida nos outros mundos?
Toda colheita exige preparação e sementeira.
Imaginemos um avião moderno, perfeitamente equipado, sobrevoando pacífico vilarejo do século XIV, sem aviso prévio. Que lucraria a ciência náutica, de imediato, senão espalhar o terror? Que recompensa adviria, em nosso favor, se constrangêssemos uma taba indígena a ouvir um concerto de Paganini, sem oferecer-lhe os rudimentos da educação musical?
O progresso, como a luz, precisa graduar-se para não ferir ou cegar as pupilas que o contemplam.
Compreendamos, acima de tudo, que a existência não é fenômeno que se articule à revelia dos Grandes Responsáveis da Evolução.
A liberdade do homem ainda está longe de atingir os princípios cósmicos que nos presidem os destinos.
A inteligência humana interferirá nos domínios da matéria densa, alterando o que pode ver; todavia, jaz extremamente distante das regiões do espírito puro, onde se guarda o controle das leis universais.
Desdobrando novos painéis da vida, diante da mente sequiosa de conhecimento e renovação, não é o mundo espiritual que deve descer para o homem e sim o homem que precisa elevar-se ao encontro dele.
E semelhante ascensão não será simples serviço da mediunidade espetacular. É obra de sublimação interior, gradativa e constante, sobre os alicerces do bem, ao alcance de todos.
As portas do tesouro psíquico estão vigiadas com segurança.
A direção de uma central elétrica não pode ser confiadas às frágeis mãos de um menino.
Como conferir, de improviso, ao primeiro candidato à prosperidade mediúnica a chave dos interesses fundamentais e particulares de milhões de almas, colocadas nos mais variados planos da escada evolutiva?
Naturalmente que as grandes responsabilidades não são inacessíveis, mas a criança precisa crescer para integrar-se em serviços complexos; e o colaborador iniciante, em qualquer realização, necessita do tempo e do esforço a fim de converter-se em auxiliar prestimoso.
Nos problemas de intercâmbio com a Esfera Superior, desse modo, antes do progresso medianímico, há que considerar o aprimoramento da personalidade para melhor ajustar-se à obra de perfeição geral.
O grande rio, sem leito adequado, ao invés de correr, beneficiando a paisagem, encharca o solo, transformando-o em pântano letal.
A ponte quebradiça não suporta a passagem das máquinas de grande porte.
A mediunidade, como recurso de influenciar para o bem, não se manifesta sem instrumento próprio.
Só o grande amor pode compreender as necessidades de todos. Só a grande boa vontade pode trabalhar e aprender incessantemente para servir sem distinção.
Antes de nos mediunizarmos, amemos e eduquemo-nos. Somente assim receberemos das ordenações de mais alto o verdadeiro poder de ajudar.