A morte, caminho afora, Para quem cumpre o dever Tem a beleza da aurora No instante do amanhecer. Não acumules. Trabalha. Sustentando o bem comum. Na verdadeira mortalha Não existe bolso algum. Trabalho ativo sem pressa. Repouso em doses normais. A morte sempre começa Quando o descanso é demais. Posse que a morte nos lega É a posse que vejo aqui: Cada Espírito carrega Aquilo que fez de si. Muita rosa de carinho Na sepultura de alguém, Às vezes, é muito espinho Naqueles que estão no Além. Aqui no Além é que cola Esta nota desabrida: Quanto mais dono da bola, Tanto mais doido da vida. No mundo, o dia revela Sempre mais altos caminhos, Mas o tempo, noite a noite, Traz a morte aos pedacinhos. Na morte, o pior que eu acho, Na cena que desanima, É o cheiro de flor por baixo E o pano roxo por cima. A morte de muita gente, No auge da caminhada, Quando surge, de repente, É uma bênção disfarçada. Morrendo, o avaro Garcia Rogava passe ao Romeu, Mas a morte repetia: — “Quem passa agora sou eu.” A morte traz dois tormentos Para os irmãos usurários: O logro dos testamentos E a luta dos inventários. Dizem que a flor da saudade, Flor de angústia e desconforto, Nasceu do pranto materno Na campa de um filho morto. Finados? Não sei agora Onde os livres e os cativos, Se entre os vivos que estão mortos, Se entre os mortos que estão vivos. |