Rumos da Vida

Capítulo XVII

Variações sobre a morte



A morte, caminho afora,

Para quem cumpre o dever

Tem a beleza da aurora

No instante do amanhecer.

José Albano

Não acumules. Trabalha.

Sustentando o bem comum.

Na verdadeira mortalha

Não existe bolso algum.

Sylvio Fontoura

Trabalho ativo sem pressa.

Repouso em doses normais.

A morte sempre começa

Quando o descanso é demais.

Noel de Carvalho

Posse que a morte nos lega

É a posse que vejo aqui:

Cada Espírito carrega

Aquilo que fez de si.

Américo Falcão

Muita rosa de carinho

Na sepultura de alguém,

Às vezes, é muito espinho

Naqueles que estão no Além.

Boris Freire

Aqui no Além é que cola

Esta nota desabrida:

Quanto mais dono da bola,

Tanto mais doido da vida.

Augusto Cezar

No mundo, o dia revela

Sempre mais altos caminhos,

Mas o tempo, noite a noite,

Traz a morte aos pedacinhos.

Pedro Silva

Na morte, o pior que eu acho,

Na cena que desanima,

É o cheiro de flor por baixo

E o pano roxo por cima.

Jair Presente

A morte de muita gente,

No auge da caminhada,

Quando surge, de repente,

É uma bênção disfarçada.

Ormando Candelária (IRMÃO)

Morrendo, o avaro Garcia

Rogava passe ao Romeu,

Mas a morte repetia:

— “Quem passa agora sou eu.”

Cornélio Pires

A morte traz dois tormentos

Para os irmãos usurários:

O logro dos testamentos

E a luta dos inventários.

Belmiro Braga

Dizem que a flor da saudade,

Flor de angústia e desconforto,

Nasceu do pranto materno

Na campa de um filho morto.

Juca Muniz

Finados? Não sei agora

Onde os livres e os cativos,

Se entre os vivos que estão mortos,

Se entre os mortos que estão vivos.

Félix Araújo