Sementeira de Paz

Capítulo XX

Fortaleza da oração



03/07/1946


Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, conferindo-lhes muita paz de espírito nas lutas purificadoras de cada dia.

Folgo ao vê-los de novo porta adentro de nossa , em nome do Cristo. O edifício da espiritualidade superior não prescinde dos servicinhos de cada dia, dos minutos de consagração à prece e à realização espiritual.

Estou satisfeito, Rômulo, com as suas atitudes na semeadura vasta de serviço terrestre a que você dedicou valiosos anos de experiência. Nessas viagens últimas, observei o grau de sua assimilação evangélica, de seu desprendimento gradua! do campo menos elevado de luta, invadido por elementos numerosos que, por representarem uma fatalidade lógica do desdobramento das tarefas, nem por isso deixam de ser perturbadores e, por vezes, irritantes. Funcionam, porém, como testes preciosos de coragem e paciência, constituindo incentivo a maiores edificações espirituais. Deus abençoe os seus esforços, renovando-lhe as energias para o enriquecimento de seu cérebro e de seu coração. É nesses antagonismos que recolhemos o maior número de bênçãos para a jornada. De todas as oportunidades de serviço que a existência no corpo oferece, os dissabores são efetivamente as melhores porque nos estimulam a alma à subida. O que nos parecia difícil na esfera interior torna-se mais fácil. O que se nos afigurava ilógico passa ao domínio do razoável e forças novas desabrocham em nosso ser, auxiliando-nos a escalar a montanha da redenção individual.

Observando seus obstáculos, e mesmo certos desencantos que surgem nas margens do seu caminho de realizador, quero muito, a propósito, exaltar a superioridade de sua tarefa espiritual já iniciada. O plano que se descortina aos seus olhos constitui-se de paisagens deslumbrantes e belas, pelo ensejo de dar, produzir e estender o bem.

As informações do apostolado de Parish chegam-nos no momento oportuno. Não procurei movimentar as facilidades necessárias para que o livro viesse ter aqui não na imposição de que pudesse ele oferecer mais dilatados conhecimentos à experiência valiosa que você vai conquistando. Desejava que vissem, como vemos através dessas páginas, a grandeza de um apostolado que se iniciou num momento em que a maioria das pessoas se declara na zona da indisponibilidade e da negação. Em plena madureza física, o grande missionário do bem começou a obra de feitio imenso com o auxílio indireto do Alto, obra essa que suas mãos prosseguem hoje, nos círculos da Vida Maior. Não me cabe, meu filho, sugerir a você isso ou aquilo, não me compete apressar ou não suas tarefas nesse setor. Peço-lhe, apenas, quando sobrevierem as dificuldades e aflições, as mágoas e as desilusões, tão comuns na posição que ocupa diante dos homens encarnados, que você encontre alegria e reconforto nessa gloriosa perspectiva do serviço aos semelhantes. Seja esse trabalho iniciante agora um templo para os seus corações. Alcançarão felicidades inexprimíveis e divinas dádivas em contato com as energias purificadoras da vida mais elevada, como traços de união entre sofredores e doentes, necessitados e aflitos da Terra, e os embaixadores invisíveis do Céu.

Guardem a certeza de que o campo é rico de realizações verdadeiramente sublimes. Esperemos o tempo e com o tempo aprendamos a prosseguir na edificação encetada. Quanto à ideia do altar de que o missionário fez base em seus trabalhos, não podemos esquecer, sem qualquer tendência ao misticismo dogmático, que temos aqui neste gabinete um santuário com vários anos de funcionamento, e nesta mesa um altar onde muitas bênçãos divinas, embora imperceptíveis aos olhos da carne, têm fluído para almas sedentas e sofredoras, estudiosas e amantes da luz. Efetivamente, nada existe aqui ferindo os sentidos do corpo — nem substâncias perfumadas, nem imagens do que existe na Esfera superior, nem sons convencionados para atenderem como pontos de referência de natureza religiosa. Mas, de fato, as dádivas do Alto permanecem aqui em função ativa, demonstrando que é possível simplificar para servir melhor. As lições adquiridas auxiliar-nos-ão a todos, de modo muito eficiente. Agora, o que é necessário é essa coluna fundamental de perseverança e método para que a obra continue, cresça e dê frutos abundantes de fé e amor em Jesus Cristo. Louvemo-lo, contentes e felizes, certos de que chegaremos até lá. Entreguemos a Deus o depósito de nossa boa vontade e Deus nos entregará a realização. Cada criatura alcançará o que procura e nós estamos procurando o bem e o serviço cristão. Que o Pai supremo abençoe a vocês todos.

Maria, chegou o semestre de nossos esforços mais ativos junto do Roberto. Não procuremos criar dificuldades “apertando o cerco”, entretanto, temos de desenvolver a política afetuosa do amor vigilante. De nosso lado, faremos o possível para ajudá-lo, compreendendo-lhe as lutas naturais, que não são poucas, e vocês farão aí o mesmo, acompanhando-o como se faz necessário.

Quanto ao seu doentinho, filho da Aurélia, caso haja fenômenos de respiração difícil convém-lhe as compressas de “angu quente” no tórax. Isso, porém, fica no quadro das probabilidades. Permitirá o Senhor que ele melhore com os nossos recursos espirituais, adicionados à medicação em uso.

Rômulo, você poderá usar por 3 dias, antes do café, pela manhã, 5 a 10 gotas de Ipecacuanha, num cálice comum de água pura. Seus serviços de autoassistência com os recursos magnéticos vão indo muito bem.

Peço a Deus, meus filhos, para que vocês sigam felizes na jornada humana. Refugiemo-nos no santuário da fé, procuremos os pensamentos divinos para nossos cérebros humanos e confiemos no Senhor, trabalhando e servindo com amor e esperança, para “ver se de algum modo alcançamos a ressurreição dentre os mortos”, (Lc 20:35) como estudaram no culto evangélico de ontem. Os nossos mortos aqui e aí são numerosos e a verdade é que precisamos ressuscitar.

Boa noite. Guardem um grande e afetuoso abraço do papai muito amigo,




Nota da organizadora: vovô Arthur se refere aqui a Clóvis Augusto, sobrinho de Maria e de Rômulo, filho de Aurélia e de Clóvis Mendes de Moraes. Frequentemente, ele passava as férias escolares em nossa casa, na Fazenda.