24/07/1946
Meus filhos, que Deus abençoe a vocês, concedendo-lhes muita paz espiritual no círculo das lutas.
Os constituirão sempre valiosas sementeiras em nossas vidas. É difícil abandonar as velhas prisões dos comentários inferiores. Imensa percentagem de criaturas traz a inteligência prisioneira nos véus da ignorância, humilhando os sublimes dons da palavra e perdendo as infinitas riquezas do verbo através de palestras e conversações absolutamente distantes da real edificação da alma. O intercâmbio de ideias que vocês vão iniciando, vagarosamente, é reconfortador. Raramente encontramos corações dispostos a isso. Estimam as teses espiritualizantes nas horas consagradas à prece e materializam-se cada vez mais no campo das ambições e dos desejos menos edificantes nos movimentos vulgares de cada dia. Por isso mesmo, perdem semeaduras e florações da mais alta nobreza, do mais sublime caráter.
Estudem, estudem, trabalhem, trabalhem. Na conjugação desses dois verbos há glórias ocultas que somente mais tarde poderão desvendar. Somente assim é possível estruturarmos a renovação com Jesus, afeiçoarmo-nos a ele e prosseguirmos adiante, a caminho da superioridade verdadeira. Sem essa realização, as atividades religiosas, sejam quais forem, constituem meros ensaios de procura espiritual.
Acompanho com muito interesse o processo familiar alusivo à aquisição de uma casa para vocês. Hão de achar interessante e inesperada a minha interferência no assunto, mas intervenho afetuosamente, e onde há afeto não há algemas nem compromisso. E se me refiro ao caso é tão somente para aplaudir-lhes a ideia, ideia essa que deve ser estudada longamente para que vocês consolidem o plano com garantias de paz.
A verdade é que o agrupamento doméstico reclama sempre um ninho próprio. E os apartamentos de agora são verdadeiros ninhos no alto das grandes árvores que são os arranha-céus. Considero muito justo o projeto, entretanto, convirá também, além do ninho, um “pedacinho de terra”, que sempre faz bem ao coração. Isso, é claro, não é medida para já. É providência relativa ao futuro mais remoto, para a qual, porém, desejo cooperar com vocês, utilizando as minhas forças e experiências. Eu, por aí, nunca fiz grande cabedal de preocupações em torno do assunto. Vagueei com a família por lugares diversos e em variadas situações. O momento psicológico da compra no Rio pertenceu muito mais aos que me acompanhavam que a mim mesmo. Não tinha muita noção de “pouso terrestre”, mas reconheço que vocês agem acertadamente, meditando o plano com suficiente oportunidade para tudo atender com a exatidão precisa. Estamos todos muito bem, todavia, organizar é sempre útil. E, nesse capítulo, organizar como vocês vêm fazendo é mais que justo. Referi-me ao “fragmento de terra” porque conheço como nos fazem bem uma árvore, uma enxada, um fio d’água, uma flor. E essa paixão é do céu, porque é da natureza em sua expressão mais sublime. Sejam, pois, felizes nos estudos em andamento inicial. O que pudermos fazer para que sejam bem-sucedidos faremos. Nossas palavras não se prendem, de modo algum, ao senso de imediatismo. Ligam-se ao espírito de previdência, sem a qual a Divina Providência tem muita dificuldade para funcionar junto de nós. “A vida é o eterno presente”, dizem os filósofos, e nós também, conhecendo o valor do “hoje que passa”. Há instantes, porém, nos quais temos de abrir uma janelinha no tempo para examinar o amanhã. Estejamos contentes e tranquilos. Tudo sempre bem.
Costumamos observar que os assuntos que vocês comentam risonhamente assumem graves aspectos quando comentados por nossa vez. E por essa razão quase sempre nos abstemos. Aqui, porém, o aspecto risonho continua. Partilhamos a alegria de vocês e esperamos que não deem ao conselho paterno senão o valor afetivo, como é lógico e natural. Que Jesus nos abençoe e proteja.
A melhor casa vocês já possuem. É aquela que estão construindo sobre a “rocha da fé viva”. (Lc
Maria, estou ao lado do Roberto. Continuemos a cultivar a nossa planta. Hoje mais dificilmente, amanhã mais facilmente. Mas estejamos, de qualquer modo, certos na proteção divina e na vitória final.
Rômulo, sua saúde merece a minha melhor atenção. Felizmente, o seu trabalho espiritual de autoassistência tem sido uma revelação da qual muito me orgulho. Jesus guarde a você, meu filho, e o ajude e abençoe sempre.
Boa noite para todos. Outros deveres me chamam. Deixando-lhes um grande abraço, sou o papai muito amigo de sempre,