12/02/1947
Meus amigos, Deus nos abençoe a todos e o ajude sempre, meu caro Rômulo, na solução de todos os seus problemas, que me pertencem também pelo coração.
Estive com vocês quarta-feira última, acompanhando a visita do nosso estimado amigo Virgílio Machado. Estive e consagrei as preces da noite à memória do , necessitado de reforço espiritual que lhe felicite a alma com o socorro preciso. Estamos diante do mundo diferente. Após a morte do corpo, meu filho, é tão difícil o movimento para aquele que não se preparou, como se faz necessário! Daí a felicidade que me reconforta, identificando-lhes o interesse pelas conquistas do espírito. Sejam felizes nessa bendita plantação a que emprestam as melhores forças e os mais lindos ideais. Você, em verdade, não pode calcular toda a extensão da alegria de seu pai, sentindo-lhe a atenção centralizada nesses sublimes objetivos. Fazer da experiência humana um altar de serviço a Deus, no serviço permanente aos semelhantes, é, em nossa fase de evolução, a maior felicidade que um espírito na Terra pode aspirar.
Muitos séculos persegue a alma a realização da fé viva, mobilizando as energias da curiosidade e da investigação caminho afora, penetrando templos de pedra e consultando oráculos, misturando esperanças com desilusões. Quando compreendemos, porém, a necessidade de estabelecermos o serviço religioso dentro de nós, movimentando os nossos recursos próprios no cometimento, então, meu filho, a existência transforma-se. A criatura desloca-se, a mente ilumina-se, o sentimento se renova.
É a revelação divina dentro do campo humano. Cessa a perquirição no exterior, extinguem-se os enganos da estrada, desfazem-se os véus de neblina que nos impediam a visão espiritual, e o tempo é escasso e o coração pequenino para conterem o universo de vibrações divinas a surgir-nos no ser.
Essa, meu caro Rômulo, é uma edificação que estou conhecendo em sua companhia. Sua época de despertamento espiritual é igualmente minha. Trago o cérebro repleto de ideias novas e o íntimo cheio de renovações. As luzes mais elevadas desabrocham através de incompreensível atuação, para mim, no campo oculto da consciência. Minha vida é hoje mais alta, maior. Quero, meu filho, expressar o que sinto e não posso transferir o patrimônio obtido a todos os entes amados, e os óbices se multiplicam ante meus propósitos. Abençoada, pois, seja a sua casa, convertida em templo de trabalho redentor, como o seu coração transformado em receptáculo da fé viva. Aqui você pode expandir-se, estender as flores e os frutos da graça, perseverar na esperança à frente do futuro, vendo partilharem do divino pão aqueles de quem o Senhor nos reaproximou para a tarefa de redenção e amor, diante do Infinito e da Eternidade. Guarde o seu lar a paz de Deus e que as bênçãos celestiais estejam com vocês, onde estiverem.
Estou contente com a sua visita ao Roberto na fase preliminar de vida nova. Maria fez muito bem seguindo para encorajá-lo. Roberto é a nossa “planta do coração”. Todos nós somos os seus jardineiros e, nesse particular, todos os nossos agradecimentos aos nossos amigos General Aurélio e D. Júlia são poucos. Sabe Deus o potencial de carinho com que ambos seguem as realizações do neto, que lhes é tão querido aos corações. Esperemos o decurso dos dias próximos. Seria interessante persistir no plano de realização junto dos avós, que representam a continuidade da guarda doméstica. Noto que o nosso rapaz permanece indeciso. Convém encorajá-lo e ajudá-lo a resolver a questão. Nessas palavras, não desejo, de modo algum, interferir, em caráter decisivo; desejo cooperar afetuosamente, sem pretender forçar as situações. Apenas saliento que a vigilância amorosa, cheia de experiência e generosidade do General e da vovó, representa fator inestimável de amparo efetivo a ele. Trabalhemos e confiemos na Bênção Divina.
Agradeço, comovidamente, à D. Júlia a dedicação com que se tem devotado ao serviço de minhas cartas pobres. Ela, com seus cuidados, sensibilizou-me bastante. Afinal, esses documentos constituem apenas notícias despretensiosas de um pai que teve a felicidade de encontrar filhos amorosos que lhe deram ouvidos. Fui muito mais feliz nas recepções que nas visitas, porque vocês todos me deram sempre mais alegria que a alegria que eu sempre lhes desejei, sem poder trazer-lhes. Se houve, pois, um trabalho digno de atenção, em tantos anos de estudos constantes, esse pertence ao Rômulo e à Maria, que invariavelmente confiaram no amigo que lhes era intangível às mãos e invisível aos olhos. É mais difícil crer naquilo que não observamos em sentido direto que visitar criaturas que adoramos, embora não sendo vistos por elas. Em razão disso, o mérito é de meus filhos e não meu. Feita a ressalva, agradeço à D. Júlia o carinho, a gentileza e a bondade que consagrou às minhas páginas singelas. E desejando-lhes uma viagem feliz, peço ainda a você, Rômulo, continuar cuidadoso nas autoaplicações de recursos magnéticos e fluídicos, rogando-lhe, ainda, usar o peixe em pequena escala. Poderá comer, entretanto, na terça parte dos desejos.
Felicidades a todos e que o Senhor nos abençoe. Suplicando a Ele nos conserve em paz, com a dádiva do bom-ânimo, em todas as lutas a que formos conduzidos por Sua divina misericórdia, deixa-lhes afetuoso abraço, cheio de carinho e saudade, o papai e amigo de sempre,
Nota da organizadora: em referindo-se a Virgílio Machado, grande amigo da família Joviano. O “companheiro curvelano” [da cidade de Curvelo. MG.] a que vovô se refere é o Major Salvo, também ligado à família por laços de grande amizade.
Nota da organizadora: Roberto passou a residir no Rio de Janeiro, no lar de nossos avós maternos, General Aurélio de Amorim e Júlia Pêgo de Amorim.