Sementeira de Paz

Capítulo LIII

É na mocidade que o homem semeia



16/07/1947


Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês todos, enchendo-lhes de paz e alegria o caminho diário.

Sinto-me feliz anotando as boas disposições do Roberto, em trânsito, dentro de nosso culto desta noite. Digo “em trânsito” para fixar a imagem das férias, de vez que, compelido pelas circunstâncias, não poderá demorar-se no campo doméstico tanto tempo quanto seria de desejar.

Abraço a você, meu filho, formulando votos pela continuidade do seu esforço edificante. Creia que a situação vai assumindo aspecto muito confortador, em face de sua boa vontade na aplicação aos serviços educativos. A vida estudantil longe do lar é sempre uma questão grave. Entretanto, apelo para seu valor, diante das dificuldades pequeninas. Busque superá-las, sempre que surjam na estrada. Confio, Roberto, em que você chegará ao termo dos estudos sem acidentes desagradáveis, na cota de tempo estabelecida. Apenas não me cansarei de lembrar ao seu espírito a necessidade de selecionar companheiros, costumes e princípios. A juventude é um patrimônio respeitável de força. Infeliz do moço, porém, que desvie o poder, conduzindo-o a esferas de luta menos dignas. para a madureza e para a velhice da experiência corporal. Não olvide semelhantes verdades.

Acredite que o Rio é a zona mais adequada à continuação de sua atividade preparatória em face da luta humana. O lar dos avós é o prosseguimento do seu santuário de sempre. E nesse caso, à frente da “batalha escolar” que você é obrigado a sustentar ausente da mamãe e do papai, muito mais confortadora para nós todos é a certeza de que a máquina de suas necessidades de assistência, etc., não se encontra sem base. Lavras seria excelente esfera de ação. Contudo, é preciso considerar que você foi ali defrontado por muitas situações críticas, por faltar-lhe base doméstica. Louvemos, pois, a facilidade que o Rio nos oferece e agradeçamos a Deus a oportunidade favorável. Que Ele, nosso Pai de Infinita Bondade, nos proteja e abençoe a todos. Rômulo, estive muitas vezes em sua companhia na paisagem de trabalho comum. De suas impressões, ultimamente recolhidas, destaco as que lhe ficaram dos companheiros juiz-foranos [da cidade de Juiz de Fora, MG.], em virtude da ternura com que lhes receberam a visita. Eu sei como são quase estranhas ao seu coração essas manifestações de ternura, menos compreensíveis naqueles que lidam com interesses de muita gente na administração dos interesses espirituais do povo. Sei que você se habituou ao realismo das situações de serviço que, na presente posição evolutiva da maioria, não se compadecem com o carinho manifesto de público. Entretanto, devo dizer que vocês e eles têm razão. Energia e doçura são duas asas para a alma. Sem ambas, o voo às culminâncias da vida é difícil, senão impraticável. A energia exclusiva endurece o solo dos sentimentos. Doçura absoluta improvisa pantanais, impedindo a sementeira. Aquilo que o portador da energia encontra no emissário da doçura é o mesmo que o adepto do carinho encontra no temperamento acostumado às realidades mais ásperas. A ciência da dominação, meu filho, está no equilíbrio. Todos nós somos conduzidos a situações em que deveremos prover a alma de recursos de ambos os valores. Os excessivamente enérgicos serão encaminhados às experiências de ternura e vice-versa. Com semelhante enunciado, não quero dizer que você estima a super-energia. Desejo tão somente lembrar que nós todos atravessaremos serviços alternados para completar o que nos falte num e noutro setor. Chegados à harmonia, caminharemos com mais êxito, porque, então, o voo às regiões mais altas se realizará mais facilmente. Esteja certo de que nos achamos em permanente exercício na academia da vida. Adquiriremos no planeta terrestre todos os valores suscetíveis de ser encontrados em suas seções de aprendizado, aprimoramento e evolução.

Tudo está acertado e a única dissonância que eu sinto em particular é justamente a de não haver sentido a verdade divina há mais tempo, sentido e aplicado a mim mesmo, a fim de ser mais apto a servir em nome de Deus. Felizmente, porém, sabemos que as palavras “nunca e impossível” não fazem parte do dicionário divino, em se tratando do bem. Progridamos sempre e iluminemos os nossos caminhos.

Sobre as suas preocupações com o Fausto, façamos o possível por atender à observação do apóstolo Pedro em uma de suas indicações, “lançando toda a ansiedade nas mãos do Senhor”. Casos existem nos quais outros recursos não sobram à ação. De vez em quando, recorde-se de que eu também tenho sido obrigado a reajustar o meu coração em maior número de vezes do que você poderia pensar. E isso, em verdade, é sempre fatal toda vez que desejamos elevar o espírito para esferas mais altas.

Expresso-me aqui, desse modo, esperando que minhas palavras fiquem exclusivamente conosco. Estendê-las aos companheiros queridos e interessados em nossos votos de felicidade e paz seria perturbá-los. Exprimo-as não para corrigir, nem para aconselhar, e sim para confortar o seu espírito consagrado ao bem de todos. A parábola do “filho pródigo” não é um símbolo inexpressivo. Cada um de nós deve achar a si mesmo. Esse é imperativo do caminho, disposição de lei universal. E quanto mais se me prolonga a estação na Espiritualidade mais compreendo a necessidade de deixar cada mente entregue às suas próprias necessidades, embora continue o meu amor crescendo mais e agindo cada vez mais vivo na colaboração indireta.

Quanto ao José, peço a você ajudá-lo a preparar-se mais intensamente para o futuro. Homem de muitas iniciativas, é obrigado a muita vigilância. Jovem ainda, em plena luta, é necessário alertar-se convenientemente. Digo isso, no entanto, somente a você, porque os amigos encarnados, em recebendo pareceres dos desencarnados, quase sempre se deixam chocar, de modo negativo. Sei que você tem feito o que é possível por auxiliá-lo, mas rogo-lhe não esmorecer nos conselhos e diretrizes, para que a sua missão seja bem cumprida.

Espero que vocês todos continuem de boa saúde. O tratamento de Maria, felizmente, vai correndo satisfatoriamente. Precisávamos de um elemento mais decisivo, qual esse que foi aplicado.

Auxiliem-se, todos, contra os golpes de ar frio.

Agora despeço-me, renovando-lhes os meus votos de paz. Que Jesus conserve todos vocês em sua divina bênção são os desejos do papai que não os esquece,




Nota da organizadora: Em referindo-se ao seu filho adotivo, José de Araújo, irmão, pelo coração, de Rômulo.