Sementeira de Paz

Capítulo XCI

O acervo de nossas comunicações



18/08/1948


Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, concedendo-nos a todos muita paz e alegria no dever bem cumprido.

Permanece conosco nesta noite o nosso amigo Raphael Chrisóstomo, que lhes trouxe carinhoso abraço, com votos de muita felicidade. Declinando ele da satisfação de escrever-lhes hoje, aproveito a noite para prosseguir na argumentação que, aliás, vem do culto de ontem. Orar sempre e nunca desfalecer pode ser também traduzido por trabalhar incessantemente, sem desânimo. Nessa fórmula, temos a equação redentora para muitos séculos de luta. Em verdade, todo com vocês, reportando-nos ao ambiente geral da doutrina consoladora do Espiritismo com Jesus, guarda este escopo: despertamento e crescimento do espírito para a elevação. Quando nossas palavras traduzem obrigações duras e difíceis, nós bem lhes reconhecemos o caráter de disciplina sacrificial.

Sabemos que muitos dos princípios de observações enumerados em nossas páginas aparecem ante a mente de vocês por roteiros de execução quase cruel, não obstante a doçura com que mobilizamos, por amor, a realidade espiritual que se faz imprescindível encarar de frente. Sabemos todos os obstáculos que se fazem espontâneos no caminho que trilham, mas é nesse mapa de adaptação pessoal aos padrões do Cristo que renovaremos o próprio valor, burilando qualidades novas na intimidade do nosso caráter. Comparecemos em tais esforços à maneira do metal conduzido à forja. Sofremos e aborrecemo-nos, lutamos e reagimos, entretanto, de nossa capacidade de obedecer, transformando-nos para o bem supremo, depende a nossa felicidade no futuro. Não suponham que eu não me encontre sob os mesmos golpes nessa bigorna bendita da renovação.

Pensam que me afastei psiquicamente do meu mundo de professor terrestre, sem óbices? Acreditam que eu pudesse compreender facilmente o sorriso de incredulidade dos nossos entes amados ante as palavras que lhes dirigia? Admitem que aceitei, de pronto, o imperativo do adiamento de iluminação para os que tanto amamos?

Debati-me igualmente no mar de aflições íntimas, imanifestas. Esforcei-me com todas as energias para entender com Jesus e esperar com o tempo. O serviço de extensão do poder mental, aqui nos Planos em que respiro, é, talvez, mais ativo que aquele a que somos compelidos no corpo carnal, porque nessa máquina abençoada há mil meios de repouso ao pensamento. Somos, na Esfera em que vivo, uma classe de trabalhadores que já passaram pelo “primeiro dia”. Vivemos o “segundo”, sabendo que se não pudermos regressar a uma nova edição do “primeiro”, por intercessão de amigos e bondade do Senhor, seguiremos na direção do “terceiro dia”, que se caracteriza entre nós por acerto de contas ou período de exames finalistas. Não sei se me exprimi corretamente, com tanta simplicidade no símbolo como desejaria. Creiam, contudo, que aquele versículo evangélico em que o Mestre nos recomenda “Andai enquanto tendes luz” é dos mais expressivos. Converter a existência em trabalho incessante no bem é a maior felicidade que uma criatura humana pode aspirar. Louvo a Bondade Celestial, que nos tem sustentado o propósito de melhoria permanente. Trabalhemos avançando para o Mais Alto. Quando desembarcamos nestes portos da Espiritualidade, de que lhes falo, é que reconhecemos a brevidade da experiência humana. Tudo ligeiro e restrito. Mas se nossos dias decorreram cheios de serviço iluminativo, as bases de paz e ventura que recolhemos para a eternidade são francamente sublimes. Assim, pois, meus filhos, perseveremos juntos no espírito do Evangelho santificante. Abrindo caminhos de paz e renovação para os outros, através da bondade, estaremos dilatando nosso próprio íntimo, convertendo-o em vaso divino. Quanto maior e mais perfeito o recipiente mais possibilidades na correta execução dos desígnios do Pai, onde estivermos.

É uma alegria para mim a verificação de que vocês já podem abordar semelhantes problemas com interesse e alegria. A abordagem é fácil, mas o prazer e a sede espiritual, nesse setor, são privilégios que poucos conquistaram pelo esforço porfiado na redenção.

Tenho cooperado com o nosso Roberto quanto me é possível. Estou sinceramente satisfeito em lhe notando o início de carreira no Ministério Público. É um contentamento grande e desse júbilo creiam que partilho intensamente, cumprimentando Maria por todas as realizações. Reconforta-nos a contemplação do milagre que a dedicação maternal tem produzido. Que Deus nos abençoe.

Agora, despeço-me deixando-lhes os meus votos de muita alegria no labor diário. A existência humana é uma bênção pelas possibilidades de servir que nos oferta, de momento a momento. Aproveitemo-la.

Desejando-lhes a segurança espiritual de sempre, no caminho da paz santificante, abraça-os muito afetuosamente o papai muito amigo de sempre,




Nota da organizadora: Jo 12:25.