Senda para Deus

Capítulo XV

História de Belarmino



Belarmino Fontes se fez funcionário do escritório de uma grande indústria.

Tinha que atender ao chefe e empresário, o engenheiro Dr. Claudiano, moço distinto, recém-casado, com vinte e seis de idade.

Dr. Claudiano estava atento às mínimas situações de serviço. Inteligência viva. Correção e diligência.

Belarmino, porém, estava habituado, há quase dez anos, à filosofia do “paletó na cadeira.”

Com frequência dava uma fugida aos arredores para tomar um cafezinho ou tirar uma fumaça. O chefe não concordava. E Belarmino estava longe de aceitar semelhante regime.

E em casa era sempre o choro:

— Dr. Claudiano é um desatino…

— Não posso admitir as exigências do chefe…

— Ganho pouco e passo o dia no aperto…

— Dr. Claudiano é mão de ferro…

De outras vezes, falava com mais destempero:

— Dr. Claudiano é um cínico…

Dona Sofia, a esposa, intervinha:

— Belarmino, não faça isso com seu chefe… Ele é humano, não estamos ricos, mas temos o necessário…

Vinte janeiros correram nessa lengalenga.

A morte buscou Belarmino aos sessenta. Ele foi recolhido a um hospital de refazimento.

Se ele reclamava no Mundo Físico, piorou na 5ida Espiritual. Debalde o seu mentor, o Irmão Lino, lhe solicitava paciência e aceitação.

Belarmino aprendeu a visitar a família, pedindo café e outras distrações.

Após vinte e dois anos, na condição de desencarnado ele foi conduzido pelo Mentor a um Conselho de Renovação.

Muito desapontado, escutou o dirigente da instituição que o informou:

— Belarmino, temos aqui todas as notas alusivas ao seu comportamento e desejamos comunicar-lhe que você tomará novo corpo na Terra, nos próximos dois meses…

— Voltarei para minha família? indagou o ex-funcionário.

— Não, Belarmino. Você será um dos bisnetos do seu antigo chefe…

— Dr. Claudiano?

— Sim.

— Para quê? rogou ele, assustadiço.

E o dirigente daquela casa de orientação respondeu simplesmente:

— Para ser empresário.




Uberaba, 27 de janeiro de 1995.