Senda para Deus

Capítulo XXIX

Se fosse



Perante alguém a condenar alguém,

Destacando algum mal que aconteceu,

Se te inclinas ao fogo da censura,

Dize contigo assim: “Se fosse eu…”


Passa a criança entregue à noite e ao vento,

Amargura, nudez, olhar sem brilho…

Se vais recriminá-la, indaga simplesmente:

“E se fosse meu filho?…”


Desditoso detento vem não longe…

Vozes clamam: “Prendei!… Apedrejai!…”

Ao ver-lhe a humilhação, interroga a ti mesmo:

“E se fosse meu pai?…”


Diante do acusado escarnecido,

Atento ao cerco de infeliz reclamo,

Fita-lhe a dor e pensa: “E se este pobre

Estivesse entre aqueles que mais amo?…”


Quanta lágrima nunca surgiria,

Quanta força da treva, agindo em vão,

Se em cada coração, à luz da vida,

Houvesse mais amor e compaixão!…


Nosso irmão delinquente!… Junto dele,

Reflete antes de erguer a própria voz:

“Como seria tudo diferente,

Se ele fosse um de nós!… ”