Expirara, por fim, o Mestre Nazareno. Cessara a gritaria… O Céu, dantes sereno, De improviso apresenta a sombra que o invade… Anuncia-se enorme tempestade. Raros amigos Permanecem no monte. Cristo agora está morto, Pendera-se-lhe a fronte Despegada do lenho… Tudo ali era pó, tristeza, desconforto… Nisso, um homem tristonho e maltrapilho, Qual mendigo varando a névoa espessa, Abeira-se da cruz… É Barrabás Que exibe extensa chaga na cabeça, Sanguinolenta nódoa adquirida Na enfermiça prisão que lhe amargara a vida, Sem arrimo e sem paz. O pobre delinquente Que tivera o favor da multidão Obtendo perdão, Em lugar de Jesus, Parou ali, fitando longamente O réu crucificado. “Por que motivo fora o Cristo condenado?” — Em solilóquio amargo, refletia — “Não era Cristo o Sol do novo dia O Grande Prometido anunciado?…” Enquanto se ralava em pensamento, Pequena gota de suor sangrento Veio do morto a ele, Em movimento subitâneo, Talvez trazida pelo vento Ao lhe pousar no crânio… “Oh! prodígio dos Céus!…” — exclamou Barrabás E levando à cabeça as mãos inquietas, Ajuntou assombrado: “Que vejo aqui? Estou recuperado!… Este amigo dos pobres Galileus Terá vindo de Deus?… A chaga que eu trazia em sangue e lodo Foi curada de todo…” E, erguendo mais a voz ao Céu, marcado a trevas Exaltou-se, fremente: “Agradeço-te, oh! Deus Onipotente À inesperada graça a que me levas, Curaste-me ao suor de teu Messias A ferida cruel que me arrasava os dias, Não só isto, porém Oh! Deus do Eterno Bem!… Não quiseste salvar quem falava em teu nome E fizeste-me livre novamente, Ante a comprovação de toda gente… Não há condenação que me busque ou me tome Sinto-me, agora, oh! Deus, em plena luz, Colocaste-me acima de Jesus!… Matei, furtei, prejudiquei… No entanto, Vejo-me sob a força de teu manto… A ti, Grande Jeovah, o meu louvor sem fim, Desprezaste a Jesus e libertaste a mim!…” E tomado de orgulho, Insensível de todo ao crescente barulho Dos trovões e do vento em derredor, Com terrível acento Ele bradou ao firmamento: — “Fala, grande Jeovah, o que já sei… Abatido Jesus, conforme a Lei, Livre, tal qual me vejo, Serei eu o maior?” Entretanto, um dos anjos de alto nível Que velava na tarde inesquecível, Representando os Céus, ao pé da cruz, Tomou a forma humana e disse:— “Barrabás, Não nos roubes a paz, Nem blasfemes, à frente de Jesus!… Toda vida é missão perante Deus Que a Lei de Deus pode alterar, Reconstruir, mudar ou recompor Nos princípios do amor!… Mas ouve, meu irmão, Entre a tua existência e a senda do Senhor A diferença é ilimitada, Aos chamados do Pai, eis que Jesus se eleva Em liberdade plena, à Vida Soberana, Quanto a ti, Barrabás, na estrada humana, Continuas cativo às correntes da treva Que entreteceste, em torno de ti mesmo… Jesus resplenderá nos cimos do Universo Teu destino, porém, mostra rumo diverso… No indulto que tiveste, ante aplausos embora, Guarda a certeza disto: — Não mereces morrer para ser livre agora… Com o amparo do Cristo, Seguirás para a frente, a passo tardo, Suportarás o fardo Dos remorsos de fel a que te algemas… O Senhor buscará nas Alturas Supremas Os sóis livres do Eterno Alvorecer A Pátria dos Heróis, ridente e linda… Quanto a ti, Barrabás, é cedo ainda Para buscar o Além… O resgate é dever… Segue, querido irmão, À procura da própria redenção, Necessitas dá Terra… É preciso aprender…” Barrabás, assustado, pôs-se em pranto, E vergado de dor, angústia e espanto, Viu-se no temporal rude e violento; Preso às cadeias do arrependimento… E agora mais em si, mais solitário Desceu chorando as pedras do Calvário; E espancado a granizo, a pensar e a sofrer, Falava, a sós consigo, alarmado e abatido: — “Graças te dou, meu Deus, por haver compreendido!… Necessito da Terra … É preciso aprender!…” |