Das emoções, a mais forte, Que mais nos amarga a vida, É a que sentimos na morte No instante da despedida. Não sei, na separação, Onde a dor mais se complica, Se ao lado de quem se vai, Se na estrada de quem fica… Por mais que a fé nos console, No Além, pouca gente atura Quem lança conversa mole, À beira da sepultura. Depois da noiva na essa Com discurso e ladainha, O noivo pediu mais pressa Para o jantar na cozinha. Ante a filha no caixão, Quinzinho, conquanto chore, Negocia com Janjão Dois touros raça Nelore. Estranho o adeus de João Horta Na grande sala enlutada: Enfeitava a esposa morta, Beliscando a namorada. Não existe despedida Para o amor que não se entorte; Quem ama durante a vida, Amará depois da morte. Chorava Júlio Salgado O pai morto, no velório… Chorava, lendo o traslado De um testamento, em cartório. Gritava a linda viúva: — “Outro esposo não aguento!…” Mas depois de vinte dias Fez um novo casamento. O amigo falou ao morto: — “Segue, amigo, de alma sã!…” Mas o morto respondeu: — “Aqui te espero amanhã.” Sofrimento heroico e santo De supremo desconforto, Vi em mãe beijando em pranto A face de um filho morto. Por mais dores arrecade, O amor puro nunca olvida; Sorvendo o fel da saudade, Não conhece despedida. |