Amar e Servir

CAPÍTULO 21

SURPRESAS



Estreitas são, meu filho, as fronteiras da visão humana nos círculos terrestres. Quase sempre a surpresa colhe desprevenido o espírito das pessoas, quando, no desaviso do tempo, não procuram a inspiração dos Cimos, nem vigiam o rumo dos seus próprios passos.

Frequentemente as mais rudes provações chegam sem anúncio prévio, como costumam chegar, para os romeiros da Terra, as decepções e os desenganos, a enfermidade e a morte.

Muitas flores de maravilhoso idealismo não chegam a abrir-se no mundo, amarfanhadas por desabridas ventanias ou taladas por mãos impiedosas.

E é comum que os invigilantes e os afoitos, na ânsia de realizações ambiciosas e egoístas, esbarrem de súbito em obstáculos intransponíveis e se despeçam inconscientemente das próprias ilusões.

Também as advertências divinas, os bens e as graças, as alegrias puras e os mais formosos presentes do Céu, chegam às criaturas, sem que elas façam n’alma o silêncio respeitoso da paz, para o seu salvador aproveitamento.

Não sigas assim, como uma folha ao vento, sem cuidado e sem rumo.

Atende aos deveres de cada dia como se fossem os últimos de tua peregrinação, e recebe as menores bênçãos da romagem como sendo as ensanchas derradeiras para a ventura imortal.

Ninguém pode acelerar a marcha das horas, nem atrasar o relógio da vida.

O tempo é de Deus. E a criatura jornadeira, nos caminhos terrestres, jamais sabe o que lhe reserva o mistério que se esconde no instante que virá.


Letícia