Tempo de Luz

Capítulo XXV

Lei divina



Alma querida, às vezes, no caminho,

Indagas a chorar, de coração sozinho,

Como atingir, por fim, o Lar Celeste,

Pelas ásperas sendas do dever…

Também eu isso mesmo interroguei à vida

Em caminhada longa e indefinida,

E hoje posso afirmar-te,

De alma fortalecida,

Que a vida me informou, em toda parte:

— Se quiseres vencer

Eleva-te, louvando as pedras da subida,

Procurando servir, ajudar e esquecer.


Por isso, perguntei ao coração da rosa

Como aguentar, tão linda e cetinosa,

Os espinhos cruéis em que a vira nascer

E a rosa me explicou que Deus a estruturara

Num misto de perfume, brilho e cores

Para mostrar que as dores,

Quando bem suportadas,

São lâminas e pontas aguçadas,

Lembrando espinhos produzindo flores;

E, portanto, devia,

Desabrochar e agradecer,

Deixar-se decepar, entregar-se e esquecer…


Fui ao campo e indaguei de uma enorme pedreira

Como tolera sem que grite

Assaltos de martelo e dinamite

Sem jamais se ofender…

Ela disse que a fim de oferecer aos homens

Moradia segura, forte e alegre,

É indispensável que se desintegre,

E, por esta razão, lhe compete saber

Aceitar o progresso, ajudar e esquecer.


Fui consultar os rios, fui às fontes

E perguntei por que motivo,

Sendo as águas sustento do homem vivo,

Tão-somente no chão poderiam correr…

E todos responderam com bondade

Que na missão do auxílio ao mundo todo.

Precisam abraçar o anonimato e o lodo,

Aceitando viver, em baixo nível

Para estender na Terra o conforto possível,

Cabendo-lhes, assim, compreender,

Perdoar e servir, ajudar e esquecer…


Desse modo, igualmente, alma fraterna e boa,

Por mais que o mal nos fira e a provação nos doa,

Qual se um punhal de fel nos arrasasse o ser,

Não te percas do amor, na aflição que te invade…

A lei divina da felicidade

Será sempre servir, amparar e esquecer.