Vida e Caminho

Capítulo XV

Perante a morte



Do túmulo para a frente, não encontramos senão nós mesmos, naquilo que realizamos do berço para o sepulcro.

A desencarnação, por isso mesmo, assemelha-se, tal qual o renascimento físico, à porta de mil faces.

Cada um de nós se retira do campo da luta humana, transportando consigo aquilo que ajuntou.

Se guardaste a mente nos prazeres perniciosos, encontrarás no jazigo de pó o torturado anseio de retorno ao corpo terrestre, tentando inutilmente satisfazer inadequada fome de sensações que apenas te arrastariam a mais amplo sorvedouro de miséria e de angústia.

Se algemaste o pensamento aos desvarios da posse, além das fronteiras de cinza, buscarás, atormentado, a contemplação do ouro que não mais te atende às solicitações e desejos.

Se conservaste o coração no oásis do egoísmo, entre as flores venenosas da indiferença, para lá da grande transformação, pervagarás irritado e sozinho nos desertos da sombra…

Mas se te consagraste ao bem por amor ao próprio bem, espalhando amor e paz, depois da transição inevitável, surpreenderás braços consoladores e amigos arrebatando-te a caminhos de redenção e de luz.

Não acredites que palavras articuladas a esmo te garantam no dia da liberdade espiritual a felicidade que não construíste.

Muitos são exonerados do corpo denso, mas permanecem enjaulados nas paixões que lhes incendeiam a vida…

Muitos se fazem invisíveis aos olhos mortais, entretanto, agarram-se ao chão escuro, devorando o fruto amargo dos vícios que plantaram ou dos enganos em que voluntariamente se perderam.

Em verdade, todos se preparam para a evidência no mundo, ciosos da máscara que lhes assegurará respeito e dignidade no jogo das aparências, mas raras criaturas se habilitam para o Reino da Luz, onde somos conhecidos pelos tesouros ou pelas calamidades que trazemos por dentro do coração.

A morte é o retrato da vida. Depende, assim, de nós o Céu que podemos iniciar ao sol de hoje ou o inferno que nos acolherá, inflexível, na treva de amanhã.