Alegre, extrovertida, amorosa e muito querida entre seus amigos e familiares.
Cursava a 7ª série do Colégio São José em Santos.
Filha caçula, formava com os irmãos Marcelo, Marcílio e Marcus o lar de Carlos Alberto da Silva Horcel e Haylet Couceiro Horcel.
A mensagem de nossa filha nos chegou após diversas visitas mensais a Uberaba, no Grupo da Prece pelas mãos abençoadas de Chico Xavier.
Ficamos emocionados e felizes pela beleza do conteúdo da mensagem e, também, por constatarmos a veracidade dos fatos relatados que eram somente de nosso conhecimento e de mais ninguém.
Um fato curioso citado pela Simone é o pedido de comprar flores ao pai e irmãos, pois, desde sua morte a mãe só colocava flores em casa diante de sua fotografia e em sua memória e homenagem.
Outro fato é quando cita sua visita ao nosso apartamento, quando, enquanto viva, morávamos em casa, mudando-nos para o apartamento só dois meses após sua morte.
A mensagem recebida por intermédio de Chico Xavier foi um bálsamo para nossas dores, guiando-nos na direção da prática da caridade e de boas ações, dando-nos a esperança de um dia alcançarmos a ventura do reencontro com nossa querida filha Simone, o que é tudo o que desejamos.
Querida mãezinha Haylet e querido papai. Será esta noite uma hora de bênção para a filha que se levanta do longo tratamento para trazer-lhes todo o amor que me vai no coração.
Pensei que a vida fosse um conjunto de sonhos que se transformam em realidade, mas estou agora numa realidade que me parece um sonho.
Estou melhorando. A vovó Maria Faya me acompanha e me fortalece nestes instantes em que preciso retomar o cérebro tão seguro e tão lúcido quanto possível, para afirmar-lhes o meu amor…
Não posso reconstituir todas as fases do retorno a mim mesma, após a anestesia profunda.
Lembro-me de que penetrei no Albert Einstein, encorajada pela fé, a procurar-lhes o ânimo firme nos rostos queridos que me habituara a ler nas mais diversas situações da vida…
Lembro-me de que você, mamãe, e papai me abraçaram em casa, formulando votos por meu regresso à saúde perfeita.
A cabeça dolorida e quase sempre pesada exigia o tratamento a que me entreguei, confiante…
Dias de indagação foram aqueles… Sentia o Marcus, o Marcelo e o Marcílio como que mais ligados a mim e, na expressão da mãezinha Haylet, notava a preocupação em meu favor, enquanto o papai Carlos Alberto conversava comigo pelo brilho dos olhos.
Papai, os nossos olhos estavam molhados. Não sei se lembra do temor que o seu olhar me mostrava, temor sem alarme e sem medo, no entanto velado por aquela névoa que não chegava a se condensar na lágrima que nós dividíamos para que não nos caísse dos olhos, porque uma nuvem nos toldava o pensamento.
Aceitei os preparativos da enfermagem para a cirurgia até que a picada num de meus dedos me impôs uma sonolência da qual não conseguia sair…
O sono cobria todas as áreas de meu cérebro e ignoro quanto tempo se despendeu, desde os sedativos até os impulsos do acordar… Despertei, sentindo-me entontecida, quando ouvi a palavra “Faya”. De quem seria a voz suave que me buscava os ouvidos?
Penso que os meus olhos abertos se esforçaram por readquirir a visão. Pela primeira vez notei que o olho é um órgão do corpo e a visão é uma faculdade da alma…
Muito devagar, a capacidade de ver me voltou ao íntimo e imaginei que trazia a cabeça raspada e ferida.
Tive vontade de gritar e chorar, entretanto, faltavam-me forças.
Quando mais forte se me fazia essa ansiedade de me fazer notada, já que me supunha sozinha, a voz tornou a dizer: — “Simone, você já passou pelos riscos da viagem e agora está conosco, em nossa nova moradia. Sei que você ainda não consegue falar como deseja, mas essa inibição é passageira. Querida, um dia, eu também senti a cabeça como que abalada por grande choque. Sofri, chorei, mas tudo passou…”
Nesse momento pude articular a pergunta que estava parada em minha garganta: — “Quem me fala?”
A senhora que se achava ao meu lado se fez visível para mim, abraçou-me, com imenso carinho, e informou: — “Sou Maria Faya, também sua mãe… Não tema. Tenho você em meus braços, assim qual aconteceu com a nossa Let em pequenina…”
Minha avó? — indaguei.
Ela me disse que sim e parecia engolir as lágrimas para me comunicar coragem e paciência. O nosso diálogo se prolongou ainda por minutos e lembrei-me de que muitas vezes, em casa, a vovó Maria era lembrada com respeitoso amor.
Vi em minha avó um retrato da mamãe Haylet e uma tranquilidade diferente me alcançou por dentro…
Depois, foi a continuidade de meu tratamento com a proteção da avó Maria e do tio Antônio, que me carregava nos braços fortes, qual se eu fosse, de novo, uma pequena de colo.
As saudades de casa me doíam mais do que as dificuldades que ainda me assinalavam a cabeça.
Um correio, um telefone, alguém que me enviasse um recado aos pais queridos… Tudo isso fazia parte de minhas petições insistentes, até que me conscientizei de que devia esperar, com paciência, a hora de revê-los e abraçá-los.
Amizades vieram em visitas de reconforto, e, com espanto, recebi a presença do Junão, o irmão do Saca (Alexandre), acompanhado de vários amigos. Chorei muito, porque toda evocação aos assuntos de casa me sensibilizava.
A minha avó Maria, porém, me prevenira de que não devia me exaltar em emoções que não me trariam qualquer bem, e os dias se passaram até que obtive permissão para ser conduzida ao nosso apartamento.
Abracei a mãezinha Haylet, que me recordava em silêncio, e abracei-me ao papai no pequeno recinto em que ele prefere escrever e escutei os pensamentos dele como se fossem palavras articuladas.
Papai, por que motivo você imaginava que a operação não teria sido necessária? As suas perguntas vinham de seu pensamento para os meus e a vovó, que me assistia, explicou-me que o seu coração paterno indagava se teria agido certo, conduzindo-me à cirurgia ou permitindo-a, sem muita certeza do que se realizava…
Hoje, pai querido, posso dizer-lhe que tudo estava na posição justa. Não poderia desenvolver-me com o problema da tumoração que seguia adiantada… E venho pedir-lhes para que a alegria de nossa casa volte a felicitar o nosso ambiente.
Mãezinha, muito grata aos seus cuidados para com todas as minhas lembranças, mas não fique presa aos meus objetos de uso. Sempre que possível, distribua esse material que já não nos pode servir.
Minhas bonecas! Desejo vê-las com as meninas que fitam as vitrinas sem possibilidade de comprá-las. Guarde o meu pobre diário de menina habituada a registros e os nossos retratos, porque letras e imagens me parecem sinais da alma que ficam vivos em nossa memória e fora dela, mas qualquer peça que se faça útil para alguém, desprenda-se de tudo e distribua, com os outros, porque isso me fará grande bem.
Não deixe de comprar as flores para meu pai e meus irmãos e faça com que todos se lembrem de mim na condição de neta em passeio com a minha avó. E creiam que estarei com todos em casa, sempre que possível.
Mas, a querida vovó Maria me diz que não posso escrever mais. Recordar abre cicatrizes — diz ela, e as que eu trazia na cabeça já desapareceram… De qualquer modo, estou confortada com a possibilidade de lhes dirigir estas notícias.
Queridos pais, estou bem e tudo continuará sempre melhor.
Para o Marcus, para o Marcelo e para o Marcílio as minhas muitas lembranças e para os queridos pais, amados meus que me encontram nestas palavras escritas com o meu coração, deixo aqui o imenso carinho repleto de saudades imensas da filha que lhes deve tudo o que recebeu de paz e alegria na Terra e que os ama cada vez mais.
Sempre a filha agradecida,
07.07.1984.
Maria Gonçalves Faya, avó materna, desencarnada em 1970.
Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, onde Simone desencarnou, após cirurgia neurológica.
Referência carinhosa à mãezinha de Simone, D. Haylet.
Antônio Couceiro, tio-avô, falecido em 1967.
Junão, conhecido de Simone, cujo nome completo é Luiz Roberto Sachs Júnior. Faleceu em 1983 e, desde sua partida, Simone lhe escrevia regularmente cartas em seu diário. Saca, Alexandre Sachs, irmão do Junão.