Casado com D. Chamena Caixe Barbosa Lima, pai de dois filhos, Cícero Barbosa Lima Neto e Carlos Ricardo Barbosa Lima, emérito educador, fundador de várias casas de ensino espalhadas pelo interior paulista, o saudoso professor CÍCERO BARBOSA LIMA JÚNIOR nasceu em Ituverava-SP, no dia 3 de janeiro de 1917, e faleceu a 25 de novembro de 1975, na capital paulista, onde se encontrava para tratamento médico.
Dedicado ao ensino, era também ligado aos planos progressistas do Lions Clube de que chegou a ser governador da região L-17, que engloba municípios do noroeste paulista, quais São José do Rio Preto, Franca, Votuporanga e Barretos.
Espírita, participou, sobretudo em Votuporanga, cidade onde residia à época de seu falecimento, de inúmeras atividades beneficentes, salientando-se pelo dinamismo e pela invulgar simplicidade, talvez a mais marcante das virtudes que esquadrinhamos em sua vigorosa individualidade.
Viu Chico Xavier apenas uma vez, e de modo fugaz, de forma que a mensagem nos impressionou por revelações inusitadas.
Da comunicação que o leitor verá nas páginas seguintes, destacamos particularmente a referência que o Prof. Cícero fez ao Padre Euclides Gomes Carneiro, emérito sacerdote, educador e filantropo, que ele e a esposa conheceram na juventude. Diz mesmo D. Chamena que o romance entre ela e o marido iniciou-se na presença do Padre Euclides, durante quermesse organizada pelo nobre sacerdote em Ribeirão Preto.
Também a referência à Madre Clélia é digna de apreço, pois que a genitora e a irmã do Prof. Cícero, residentes em Araçatuba, são muito católicas e devotas da Congregação das Irmãs Missionárias Zeladoras do Sagrado Coração de Jesus, ordem justamente fundada pela Madre Clélia Merlone, veneranda missionária falecida em Roma, no ano de 1930.
Observamos na mensagem que o Prof. Cícero recebeu no Plano Espiritual, quando de sua “morte” o socorro de duas figuras respeitáveis, ligadas à Igreja Católica: o Padre Euclides, de suas reminiscências da mocidade, vivida em Ribeirão Preto e Madre Clélia, que o assistiu na passagem para a “outra vida”, decerto em função dos apelos da família.
Podemos assim, assinalar que tanto nesta vida quanto na outra valem — acima dos critérios pessoais de concepção religiosa — os laços do sentimento e da solidariedade humana. Os nossos amigos católicos talvez estranhem a presença de um Padre e de ilustre Madre já falecidos, nessa missiva do Além, obtida por médium espírita. Acontece que no Plano Espiritual, à semelhança do que ocorre no Plano Físico, há a mesma liberdade de religião, com templos de múltiplas crenças, edificados nas cidades espirituais, pois a morte não muda nossas concepções mais íntimas.
Sugerimos, a propósito, o conhecimento dos livros de André Luiz, psicografados por Chico Xavier, porquanto ao contato deles o leitor encontrará a descrição precisa de muitas experiências no Além, com relatos edificantes e significativos.
Enderecemos nossa atenção à palavra do Prof. Cícero Barbosa Lima Júnior, recebida em Uberaba, por Francisco Cândido Xavier, na noite de 30 de janeiro de 1976.
Minha querida. Deus nos proteja e abençoe.
Tomo do lápis, com a insegurança do aprendiz que se vê guiado para escrever. Estou emocionado, mas feliz.
Ouvi seus rogos, suas preces. Não sei explicar o que sinto. Ambiente novo, existência inesperada, dificuldades de adaptação, surpresas de reajuste… Que mais?
Essa ânsia de pedir a você para viver e ficar tranquila. Essa inquietação por falar ao seu carinho que tudo está bem.
Chamena, você não pode imaginar com que lágrimas de alegria encontramos esta possibilidade de comunicar ternura e saudade a quem mora conosco por dentro da própria alma, no nicho de nossas mais queridas lembranças.
Sou eu sim que volto, e volto para repetir quanto amo a você e aos nossos filhos. Querida, o sono, se o descanso inicial do corpo foi sono, passou rápido. Ali mesmo, no Servidor, pensava no nada, no fim de tudo, com as pálpebras cerradas, na última ocorrência da respiração… Entretanto, justamente ali, quando o transe era mais fulminativo e mais rápido, vi meu pai e o nosso amigo, Padre Euclides.
A infância, a mocidade, o lar e as orações do lar, represavam com força no meu mundo de memórias e, à feição da criança que se vê agasalhada na proteção paterna, repousei daquela tremenda luta orgânica que nós dois conhecemos. E a vida, meu amor do coração e da alma, renasceu em mim, lembrando calor de sol quando amanhece… Você e os meninos estavam comigo, minha mãe igualmente repontava de minhas recordações, como se estivesse, de minha parte, naquela hora, reunindo as peças de meu tesouro.
Dizer ao seu carinho o que será rever aqui as afeições queridas, é impossível. Hospitalizado para continuação de tratamento em novas bases, à medida que me refazia, novos amigos me vinham ver e até mesmo a amiga e irmã vovó Caixe, que não cheguei a conhecer, me abraçou em seu nome, fazendo-me sentir quanto lhe doía a nossa separação.
Mas, melhorando, senti que a visão e a audição se retomavam em nível diferente e passei a ver e a escutar você, no espelho íntimo de minhas preocupações.
Agradeço a você — por tudo — por suas orações, por suas lágrimas, por suas saudades que são minhas, mas peço-lhe que viva e que esteja confiante em nossa felicidade. Tenho tido vontade de acariciar-lhe a cabeça fatigada, quando você alinha pensamentos e palavras, lembrando e lembrando os dias que se foram…
Querida, não guarde qualquer ideia de culpa entre nós dois. Porque você procurasse algum entretenimento para mim, enquanto me competia ficar no contato de meus problemas físicos, isso não é motivo, mas não é motivo algum, para que você pense em sombras e nuvens sobre a nossa felicidade. Você fez tudo para que eu fosse feliz e agora prometo que sairei de minha atual insipiência para construir a felicidade em que nos reuniremos um dia na 5ida Espiritual. Entretanto, peço para que relegue essa ideia de reencontro para o futuro distante. Lembre-se: Cícero Neto e o nosso Ricardo precisam de você. Outros familiares nossos esperam por nós e precisamos armar a nossa fortaleza de fé sobre a saudade e iluminar o nosso caminho com novas esperanças.
Rogo a você alegria e confiança em Deus, na certeza de que a nossa união é indestrutível. Olhe o céu à noite e veja as estrelas. Por vezes, sombras passam por um ponto determinado… Passam e não ficam. Assim são nossos sonhos e projetos de ligação para sempre. Nosso amor, querida, é luz de Deus em nós e a luz de Deus é inapagável. Trabalhe na seara do bem, que não tive ocasião de compreender, como sinto agora a necessidade de esquecer-nos pelo bem dos outros.
A beneficência é o caminho para os grandes caminhos que nos aguardam. Os que sofrem mais que nós são nossas pontes de intercâmbio com a Bondade Divina. Você sempre entendeu tudo isso. Quanto a mim, reconheço que preciso seguir-lhe os passos.
Meu pai está comigo e vem auxiliando a mãezinha que tem estado sob benefício das orações da Madre Clélia, de Araçatuba.
Querida, estou diante de um novo mundo. Sessenta e alguns dias representam tempo estreito para falar com segurança desejável.
Devo terminar esta carta que me empenho a fundamentar em dois pontos essenciais: pedir a você serenidade e alegria, confiança em Deus e despreocupação de quaisquer pequeninos contratempos do passado e rogar sua dedicação de mãe para o nosso Ricardo, atitude essa claramente dispensável em qualquer recomendação do seu velho, porque você não pode ser mais abnegada em nosso favor. Acontece, porém, que o nosso Ricardo está muito jovem e o diálogo de apaziguamento íntimo será sempre útil a ele, situado num tempo de tantas incompreensões em torno da juventude.
Abrace os filhos por mim. Sou grato aos amigos Grisi e Sestini, tanto quanto às outras afeições que nos fazem companhia.
Hoje tenho a ideia de estar entendendo o valor da oração e peço a Deus a todos recompense.
Nosso Lidaí abraça a esposa, o que não posso omitir, ante a solicitação do amigo e companheiro.
Para você, minha querida, toda a minha confiança e todo o meu carinho inalterável e incessante. Rogando a sua tranquilidade em nossas conversações de pensamento a pensamento, quando você se coloca à frente do meu próprio retrato ou quando configura a minha imagem, pobre imagem no seu campo íntimo, espero que você esteja muito forte e muito tranquila.
Com todo o amor, iluminado agora pelas bênçãos que pedimos a Deus pela sustentação de nossa felicidade, beijo suas mãos queridas e entrego-lhe o próprio coração.
O esposo e companheiro sempre e cada vez mais reconhecido, sempre mais seu,
Além dos comentários que fizemos anteriormente, a respeito da interessante referência do Prof. Cícero aos nomes do Padre Euclides e de Madre Clélia Merloni, colocamos ainda em pauta os seguintes esclarecimentos:
1 — Vovó Caixe — Maria Caixe, avó de sua esposa, D. Chamena, falecida em 1928.
2 — Clélia — identificamos em página precedente.
3 — Romeu Grisi e Gérson Sestini, nossos conhecidos.
4 — Lidaí Benini — também autor espiritual neste livro. ()
Psicografia de Francisco Cândido Xavier na noite de 30 de janeiro de 1976, Uberaba, MG.