Vida em vida

Capítulo XVII

Mendigo



(Versos ao companheiro de lutas, brilhante cavaleiro dos ajustes medievos com quem partilhei alegrias e reveses, há precisamente seis séculos, o que encontrei, presentemente, na condição de pedinte, enfermo e relegado à via pública, depois de múltiplas aventuras em que se complicou nas experiências e ideais do campo afetivo.)


Lembro-te rico e nobre… O peito hirsuto e forte…

Empinas o corcel dominante na pista…

Nos jogos medievais, tudo o que mais se avista

É a força de teu braço e a graça de teu porte!…


Mas abusas do amor, de conquista em conquista,

Filhas, esposas, mães arrastas para a morte…

Quanto luto e aflição, sem que nada te importe!…

E o corpo se te esvai e sem que o ouro te assista…


Achas, desencarnado, as vítimas de outrora,

O remorso te assalta o coração que chora…

Tudo o tempo envolveu em espessa neblina!…


Reencontrei-te, hoje, enfim, mendigo em longa prova.

Louva, porém, os Céus… Na dor que te renova,

Sublimarás o amor para a ascensão divina!…