Meus irmãos, filhos de Deus Não pensem que sou maluco, Sou apenas cantador Do sertão de Pernambuco. Convidado por amigos, Minha voz se desemperra No sentido de exaltar A evolução que há na Terra. O que eu devia falar Usando de garbo e gosto É que o mundo de hoje em dia Subiu de rumo e de posto. Mas já fui de meu recanto A todos os continentes, Não achei progresso algum Só vi cousas diferentes. Não sei se depois da morte Sou mais burro por aqui, Mas vou falar com franqueza Do que eu via e do que eu vi. Em minha casa de taipa Levantada sobre o chão, O teto tremia ao vento Mas não se via ladrão. O pessoal no roçado Rezava e dormia cedo, Agora, a noite do povo É rua, polícia e enredo. Qualquer palavra era dada Com segurança e raiz, Hoje, a dívida é cobrada Com sentença de juiz. Vestida dos pés ao coco Era a pessoa de outrora, Vê-se hoje muita gente Com muitas peças de fora. Nas praias então o assunto Já se tornou cousa feia, Encontra-se em qualquer parte Gente pelada na areia. Uns falam que é por moléstia Que estão assim, a contendo, E a gente lhes vê na cara O riso do assanhamento. Na capa dos semanários, Vinha a flor, vinha a charrua, Agora, em qualquer revista, Aparece gente nua. Hoje, muita mulher mãe Mudou por fora e por dentro, Se há promessa de criança, Que vá baixar noutro centro. Muitos Espíritos lindos, Querem corpo no planeta, Mas já vivem perguntando Como nascer de proveta. Os meninos do passado, Tinham vida e mocotó, Agora penso nos filhos Das latas de leite em pó. A carroça, algumas vezes, Matava um nos gerais, Hoje, a queda de avião Mata cem e, às vezes, mais. Alguém aprendia o mal Quando estivesse em prisão, Agora, o assunto está livre Na luz da televisão. Em verdade a Medicina Progrediu muito no efeito; Doentes são bem tratados, Mas morrem do mesmo jeito. Há tantos remédios novos!… Não há lista que os resuma E o livro nos cemitérios Não aponta baixa alguma. Grandeza dos tempos novos? Procuro e não sei qual é, Tempo antigo era mais duro Mas contava com mais fé. Progresso humano? Não sei Se o mundo anda muito exato, Tenho saudades do campo De minha choça no mato. Respeito a Terra de agora E a evolução dos ateus, Tudo existe para o bem Pela Vontade de Deus. Sei que de tantos empeços Nos quais agora me movo, Deus em tudo está criando O brilho de um mundo novo. Mas sou sincero. Se agora Renascer é minha sina, Quero um mundo sem motores, Sem guerra e sem gasolina. |