Vida em vida

Capítulo IV

Dor bendita



(Versos dedicados a um companheiro que conheci, há quatro séculos, na condição de guerreiro eminente e rei triunfante, amigo esse que teve a infelicidade de abusar do poder, na prática do mal, e que hoje reencontrei reencarnado, na posição de mendigo, entregue a dolorosas provações, na via pública).


Lembro-te, velho amigo, a triste liderança…

Ajustas-te ao corcel… O corcel rincha e voa…

Ordenas atacar, a trombeta ressoa…

Levas contigo a morte e o sofrimento avança.


Aniquilas a vida, extingues a esperança…

Matas, feres, destróis, envileces à-toa…

Fazem-te chefe e rei, guardas cetro e coroa,

Mas, em plena vitória, o túmulo te alcança!…


Depois de tanto tempo, achei-te reencarnado;

Mendigo sem ninguém, redimes o passado…

Dói-me fitar-te a lepra em calvário imprevisto…


Entretanto, bendize a dor que te consterna,

Por ela, ascenderás à luz da vida eterna

Para servir ao Bem, entre as hostes do Cristo!…