Vida em vida

Capítulo X

Cegueira



(Versos à soberana feudal que conheci há seis séculos, em pleno fastígio do poder humano mal aplicado, e que reencontrei agora, na provação da cegueira física, procurando nos estudos reencarnacionistas a chave de solução aos problemas que lhe afligem a redentora existência).


Reconheço-te, irmã… Retornas de outras eras…

Soberana feudal, o busto nobre empinas…

A teu mando cruel, as hordas assassinas

Espalham fogo e lama… E, sorridente, esperas.


Guardas em pranto e sombra o povo que dominas…

Encantas e destróis… Amas e vituperas…

Um dia, a morte chega e, erguendo as mãos austeras,

Deita-te o corpo inerte ao pé das casuarinas…


Depois de tanto tempo, achei-te reencarnada,

És hoje triste cega aos arrancos na estrada,

Somando as provações, no intuito de entendê-las…


Mas louva, nobre dama, a treva que te espia,

Pela dor da cegueira, alcançarás, um dia,

O teu reino de amor, resplendendo de estrelas.