Vida em vida

Capítulo XIV

Louca



(Versos dedicados à devotada amiga de outro tempo que, apesar de nobre e generosa, transformou a beleza física em motivo para desregramento e criminalidade e que, presentemente, reencontramos reencarnada, na provação da loucura, maltrapilha e abandonada à via pública.)


Reecontrei-te, afinal, entre provas austeras…

Ontem, ouro e brasão — senhora das senhoras

Hoje, vagas ao léu, ninguém sabe onde moras,

Louca atirada à rua, em pranto, deblateras!…


Ajusta-se-te a pele em túrgidas crateras,

Transformou-se-te o tempo em calvário das horas!

Apedrejam-te e ris… Acalentam-te e choras…

Nada lembra em teu vulto a dama de outras eras.


Louca!… Zombam de ti, quando surges na estrada,

Trazes a expiação da beleza culpada,

Lembro-te, sofro… E, ao ver-te, em mágoa, me constranjo!…


Mas bendize, senhora, o corpo em lama e trevas!…

Nele plasmas com a dor das lágrimas que levas

A brancura de um lírio e a beleza de um anjo!…