Vida em vida

Capítulo XVI

Prova e libertação



(Versos dedicados à irmã que conheci, rainha generosa e tirânica, há quatro séculos, que ontem reencontrei num catre de enfermidade e penúria, reencarnada em abençoada existência de redenção.)


Lembro-te, nobre amiga, a voz de soberana,

Poderosa mulher quando ordenas e falas,

Da púrpura do trono ao carmezim das salas,

És rainha e senhora, amada e desumana.


Que estranha sedução nos perfumes que exalas!…

Quantos lares destróis, quanto afeto se engana!…

De paixão em paixão, gastas a vida insana

E morres, humilhando os homens que avassalas…


Quanto tempo se foi!… Mas reencontrei-te, agora,

Mãe reencarnada e triste, alma que sonha e chora,

Entre penúria e pó, chagas, sombras, ruínas…


Mas agradece a dor do cárcere de penas,

Nele retomarás teu carro de açucenas

Para reinar com Deus, nas vastidões divinas.