Vivendo Sempre

Capítulo XV

Cezer de Melo



MENSAGEM


Querida mamãe, sou filho e os filhos não se esquecem da bênção de casa para ser felizes.

Agradeço o carinho com que veio até aqui, com o vovô Benedito e com os nossos à procura de palavras minhas.

Veja mamãe, a sua palavra sempre recomendava cuidado na altura: o painel do avião poderia estar errado, as nuvens seriam traiçoeiras, as tempestades chegavam de improviso e era preciso muita prudência para não me despedaçar à frente de alguma elevação mais alta da terra.

Recordo as suas palavras de amor e preocupação, sempre que me ausentava decolando para subir; e, no entanto, tive de largar o corpo físico na terra mesmo, na poeira do chão. E ninguém diga que eu estivesse com velocímetro de ultrapassagem. Achava-me no volante com segurança e equilíbrio, mas, aquela última sexta-feira de março, era o meu dia de promover o regresso.

Rogo-lhe não chore tanto. Peça aos nossos me abençoem, sem lamentar-me.

Olhe para o vovô Benedito e veja o retrato da firmeza. Meu avô sempre teve razão e continua exato nas escolhas e nas definições que faz.

O princípio por aqui foi muito difícil, como acontece a qualquer início: assombros, perguntas, choro sem razão de ser e muita reclamação.

Mas, a primeira pessoa que me afagou no despertamento, foi a querida vovó Idalina, que faz questão de substituí-la por aqui, tanto quanto possível, em meu favor.

Ela tem sido incansável e, ainda agora, me acompanhou com o tio Antônio e com o nosso querido Derval, encorajando-me para que eu lhe escreva estas notícias sem lamentações.

Mãezinha, agradeço o carinho com que a senhora e meu pai me auxiliam diariamente.

Tio Antônio abençoa a senhora e a tia Sebastiana, e pede que seja dito ao nosso Walder, que ele não o esquece e que o felicita pela vitória de paz que ele atingiu, compreendendo e desculpando certas situações em que ele brilhou pelo entendimento.

Os nossos laços de amor não se desatam. O amor é muito mais poderoso que o tempo e que a própria morte e, por isso, mãezinha Aparecida, conto com seu amparo habitual.

Estamos mais juntos e parece-me que estou mais em casa, ao lado dos corações queridos, dos quais realmente não me despeço. Rogo-lhes coragem.

Lembre-se, mãezinha, dos outros Cezers que estão por aí, necessitando de socorro e de amor.

A caridade não é uma legenda vazia. É uma abertura para os Céus.

Não desperdice o tempo chorando o inevitável. Recorde os que temos a proteger e sustentar.

Perdoe-me se lhe falo assim porque, em seu trabalho, a beneficência sempre me convidou a pensar melhor. Parece que a minha vida curta e repleta de encargos me afastava dos conselhos e avisos, no entanto, eles estão todos comigo.

Muito grato por ter vindo com o vovô e com o nosso Walder, comandando a turma.

Mãezinha, se lhe posso rogar alguma coisa, além do muito que recebo de sua abnegação, peço-lhe para que não chore mais com desânimo; choremos trabalhando, em auxílio daqueles que atravessam estradas mais empredradas do que as nossas.

Querida mamãe, nosso Walder espera uma palavra paterna, mas o tio Antônio pede a ele seguir em frente, sem prender-se às amarras que lhe seriam prejudiciais.

Todas as dificuldades passarão. Até as minhas de jovem desencarnado, quando tudo me prometia esperança, estão desaparecendo. Ajude-me com seu reconforto e estarei reconfortado.

Mãezinha Aparecida, leve aos nossos a mensagem de meu carinho e de minhas lembranças.

Aqui termino, recordando meu pai, o herói a quem devo tanto, depositando em sua fronte serena e tranquila de mãe, que sabe viver para a vida formosa que Deus nos concedeu, o beijo de profundo amor e de gratidão sem limites, do seu filho sempre reconhecido,



COMENTÁRIOS


Quem não se lembra das vezes em que; chamados pelos conselhos de quem nos estima, ouvimos: “Cuide-se bem… Preste atenção… Dirija com cuidado… Não se exceda…”

Respeitosamente costumamos desatender, mas a Providência Divina sinaliza e marca os nossos impedimentos e não adianta justificar. O Juiz da Vida encerra a contenda. O tempo está esgotado. De volta ao vestiário da verdade, a consciência fala sempre mais alto. Prova de semelhante realidade são os apelos e recomendações dirigidos a Cezer, quando alcançava as alturas, em sua máquina de voo.

O “cessar vida” está onde Deus determina. Para Cezer, estava no volante de um automóvel e, conforme suas palavras, “na poeira do chão…”


PESSOAS E FATOS


Cezer de Melo.

Nascimento: 18.6.1955. Desencarnação: 31.3.1978.

Pais: José de Melo Neto e Aparecida Aires de Melo. Rua C 190, n.° 245, Goiânia — GO.

Avós: Benedito Aires da Silva e Idalina Rosa, materno.

Tios: Antônio Ferreira, desencarnado. Sebastiana Aires Ferreira, residente em Goiânia.

Primos: Derval Aires da Silva, desencarnado. Walder Ferreira, residente em Goiânia.