Vozes do Grande Além

Capítulo LXII

Hora extrema



Na noite de 30 de agosto de 1956, nosso Grupo recebeu, emocionadamente, a visita do Espírito Antônio Nobre, o inesquecível poeta português que, após controlar as faculdades do médium, expressou-se com intraduzível beleza, transmitindo-nos o soneto abaixo transcrito.


— A vida é sombra de ilusão funesta…

Exclamava chorando, ao fim do dia.

— Lodo, miséria e pó, na noite fria…

De toda lide humana é quanto resta.


— E o amor, a beleza, e o sol em festa?

— Cinza e nada!… — a mim mesmo respondia.

— E o pesadelo estranho da agonia

Nos tormentos da angústia que me empesta?


Pranto e dor estrangulam-me a garganta…

Nisso, porém, a morte calma e santa

Vence o gelo da treva que me invade.


Partem-se algemas… Luzes brilham perto.

E, deslumbrado, escuto, enfim liberto,

A divina canção da Eternidade.



ANTÔNIO NOBRE — Notável poeta luso de fina sensibilidade, desencarnado em Portugal.